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Ainda sobre o incidente racial envolvendo Maria Júlia Coutinho

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Ministério Público pede investigação para identificar autores das ofensas contra Maria Júlia Coutinho. Agressores podem ser indiciados por dois crimes. Advogado afirma que caso ilustra a situação de racismo camuflado que impera no Brasil

Maria Júlia Coutinho, vítima de racismo

Vítima de ofensas racistas, a jornalista Maria Julia Coutinho ganhou o direito de falar, ao vivo, por 70 segundos, no “Jornal Nacional”, sobre a agressão que sofreu.

“Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores. Mas a verdade é o seguinte, gente. Eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que é o mais importante. Eu cresci em uma família muito consciente, de pais militantes, que sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos. Acho importante essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos ataques a mim e a outras pessoas. Isso é muito importante. E quero manifestar a felicidade que fiquei, porque é uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com a manifestação de carinho, Recebi milhares de e-mails, de mensagens. Isso é o mais importante. A militância que faço é com o meu trabalho, sempre bem feito, com muito carinho, com muita dedicação, com muita competência, que é o mais importante. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa”, desabafou a jornalista.

Crime

As pessoas que postaram comentários racistas direcionados à jornalista Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional, da Rede Globo, podem ser indiciados por dois crimes. As ofensas estão enquadradas em racismo e injúria racial e podem resultar em até dez anos de prisão.

O Ministério Público do Rio de Janeiro e o de São Paulo já pediram a investigação das ofensas.

Conforme o advogado, consultor de políticas públicas e jornalista Dojival Vieira, o caso ilustra a situação de racismo camuflado no Brasil.

“A internet acaba sendo vista pelos racistas como um território onde eles podem extravasar o que pensam. Isso explica os comentários agressivos e outras aberrações praticados contra a jornalista. Ninguém no País assume que é racista e o camuflado não aparece à luz do dia. Assim, passaram a ver que a internet é impune, o que é uma ilusão”, disse.

Para o advogado, as ações do MP que devem identificar os responsáveis pelos comentários podem enquadrá-los nos dois crimes: artigo 140 do Código Penal, injúria racial, e o crime de racismo, previsto na lei 7.716/89.

“O que não pode ser feito é confundir o racismo com preconceito. Preconceito todos nós temos, racismo é atitude. São coisas distintas, que o senso comum mistura”, opinou o advogado.

Para o militante do Movimento Negro Honerê Alamin Oadq, o que aconteceu é um reflexo do que é veiculado na própria televisão e acabou formando o caráter racista das pessoas que postaram as mensagens.

“Dificilmente a TV coloca o negro em posição adequada, em condição que não seja subalterna. Por muito tempo os programas produziram racismo ditando a cor do ladrão e a cor do empresário. Quando se coloca pessoa negra em horário nobre, essa população que ela sempre educou de maneira racista manifesta a contradição dessa mudança”, opinou Oadq.

De acordo com o militante, a jornalista está no cargo porque se esforçou muito para isso, mas ainda é exceção. Segundo ele, muitos negros ficam fora do mercado de trabalho por causa da cor da pele.

“Ela não tem que ser exceção, e a nossa luta é para que acabem essas exceções, para que outras pessoas possam ter o acesso devido à sua capacidade técnica e à experiência profissional. Isso atualmente não é levado em conta, porque o profissional negro, principalmente quando está em uma grande mídia, é barrado”, afirmou Oadq.

Apoio

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa usou o Twitter no domingo, 5, para mandar duas mensagens de apoio à jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, do Jornal Nacional, da TV Globo. Ela foi alvo de comentários racistas na noite de quinta-feira, 2, na página oficial do telejornal, no Facebook.

“Pois é, Maju. Aqui é assim. O pior é que boa parte dessa gente ainda se acha relevante, tem veleidades de ser vista como pessoas civilizadas”, disse Barbosa no primeiro post.

Publicações em defesa de Maju logo surgiram após as críticas. Na tarde de sexta-feira, 3, um usuário do Twitter postou uma crítica ofensiva à jornalista, que foi rebatida por ela. “Beijinho no ombro”, respondeu Maju.

“Adorei tua resposta, Maju. Nem te conto o que se passou comigo nos 11 anos em que ocupei posição de alta responsabilidade e visibilidade…”, afirmou o ex-presidente do STF.

Joaquim Barbosa ficou onze anos no Supremo, entre 2003 e 2014. Ele presidiu a Corte máxima no julgamento da Ação Penal 470. Barbosa não entrou em detalhes, porém, sobre o que ele viveu em onze anos no STF.

O caso

Na última quinta-feira (2/7), Maria Júlia Coutinho foi vítima de comentários preconceituosos na página oficial do Jornal Nacional no Facebook. Diversos internautas escreveram mensagens racistas, como “Só conseguiu emprego no ‘Jornal Nacional’ por causa das cotas. Preta imunda” ou “Vá fazer as previsões do tempo na senzala”.

O âncora do Jornal Nacional William Bonner, a apresentadora Renata Vasconcellos e a equipe do telejornal fizeram um vídeo em resposta aos comentários preconceituosos. Sem citar a polêmica, Bonner falou: “A gente queria dar um recado para vocês. E o recado é esse aqui, ó: ‘somos todos Maju'”. A hashtag “SomosTodosMajuCoutinho” ficou em primeiro lugar nos Trend Topics do Twitter.

informações de Diário do ABC, EM e Agência Brasil

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