Não fosse pela câmera que policiais nos EUA têm em seus uniformes, o agente que matou Samuel DuBose com um tiro na cabeça teria ficado impune. A morte ocorreu há dez dias e se soma à série de casos de homens negros mortos por policiais brancos naquele país
Não fosse pela câmera que alguns policiais dos Estados Unidos têm em seus uniformes, o agente que matou Samuel DuBose com um tiro na cabeça teria ficado impune, segundo a família da vítima.
O oficial Ray Tensing, da polícia da Universidade de Cincinnati (Ohio), matou DuBose depois de pará-lo nas proximidades do campus ao ver que seu carro estava sem placa dianteira.
A morte ocorreu há dez dias e se soma à série de casos de homens negros mortos por policiais brancos nos EUA.
Tensing afirmou que DuBose, de 43 anos, o arrastou com seu veículo ao tentar escapar da abordagem.
O advogado dele, Stew Mathews, afirmou que o agente, de 25 anos e quatro de experiência, temia por sua vida. “Ele achou que DuBose ia atropelá-lo”, disse.
Mas o vídeo, gravado por um câmera no uniforme de Tensing e divulgado nesta quarta-feira, parece contradizer a versão do policial.
As imagens mostram a conversa – inicialmente em tom cordial – que os dois mantiveram quando o agente pediu que DuBose parasse o veículo.
O policial pede sua carteira de motorista e DuBose afirma que não está com ela, mas afirma que tem permissão para dirigir.
Depois o agente pede a DuBose que tire o cinto de segurança e saia do carro. Ele se aproxima da porta e faz menção de abri-la.
O motorista segura a porta, reclama que não fez nada e liga o motor. Põe o veículo em marcha. Ouve-se um disparo.
O veículo avança uns metros e é possível ouvir quando ele se acidenta, fora do plano, enquanto Tensing corre até ele. DuBose foi declarado morto no local.
Tensing foi acusado de homicídio. Ele pode ser condenado à prisão perpétua.
“Isso, sem nenhuma dúvida, é um homicídio”, disse o fiscal do condado de Hamilton (Ohio), Joe Deters, em entrevista.
“Ele não fez nada violento contra o policial. Não estava sendo arrastado, mas sacou sua arma e disparou contra a cabeça [de Tensing].”
A família de DuBose e organizações de direitos civis haviam pedido a divulgação das imagens da câmera.
Terina Allen, sua irmã, disse à imprensa que, sem o vídeo, a morte de seu irmão teria sido descrita como “justificada” e outros oficiais teriam corroborado a versão de Tensing.
“Meu irmão seria outro esteriótipo e isso não vai acontecer”, disse. “Sabíamos que o vídeo ia inocentar meu irmão.”
A morte de DuBose é a mais recente de uma série de casos em que cidadãos negros foram mortos sob custódia policial ou durante a prisão.
As mortes de Eric Garner, um vendedor ambulante em Nova York, e do jovem Michael Brown, em Ferguson (Missouri) provocaram indignação da comunidade negra e protestos depois que os policiais suspeitos em ambos os casos escaparam de indiciamentos.
O caso de DuBose reavivou o debate sobre a necessidade de a polícia de todo o país ter câmeras em seus uniformes.
Uma medida que foi solicitada por ativistas e a qual o presidente Barack Obama se mostrou favorável, mas que, para alguns, envolve dilemas legais sobre a privacidade.
“Podemos dizer seguramente que este caso vai ajudar a causa das câmeras policiais em todo o país”, disse o prefeito de Cincinnati, John Cranley.
O professor de Direito Penal da Universidade de Cincinnati John Eck disse ao jornal New York Times que era cético quanto ao uso da ferramenta, mas que o caso tinha feito com que mudasse de opinião.
Em abril, na Carolina do Sul, o agente Michael Slager disparou e matou Walter Scott, também negro, alegando que ele havia roubado sua arma de descarga elétrica – outro agente confirmou a versão.
O incidente começou depois que Scott foi detido porque o farol traseiro de seu carro não funcionava.
Mas o vídeo de uma testemunha que passava pelo local contradisse sua versão ao mostrar que, após uma breve troca de palavras com o agente, Scott começou a correr e a polícia atirou em suas costas.
Slager foi acusado, em junho, de assassinato.
BBC
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