Categories: Mídia desonesta

Credo

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André Falcão*

Acredito na mídia grande. Ops, grande mídia. Piamente. Creio inexistir motivo para que as poucas famílias milionárias que a comanda fossem realizar um jornalismo parcial, aético e desonesto. Assim é que, por exemplo, creio, mesmo, que as sucessivas manchetes, na sua quase totalidade negativas, que pulularam no governo Lula, como agora no governo Dilma, tenham razão de ser.

Daí que, por exemplo, acredito, de olhos fechados, será por isto?, que o chamado mensalão petista não se tratou de mero caixa dois, e sim de mesadas pagas regiamente aos parlamentares de oposição para que votassem matérias de interesses do governo Lula. Pouco me importa que não se trouxe notícia de uma só dessas mesadas. E o STF não sofreu pressão alguma de meu deus midiático, realizando um justiçamento, ops, julgamento que ficará para a história. Aliás, aquela Corte involuntariamente culminou por apontar falha inaceitável no currículo dos cursos de direito das universidades federais de PE e AL. Lá, onde estudei, jamais me apresentaram à Teoria do Domínio do Fato, criada por um alemão com o fim de incriminar nazistas. É verdade que aqui realizaram uma interpretação extensiva do colega deles de além-mar, dispensando a existência de provas para condenar um dos réus, mas Suas Excelências tupiniquins sabiam o que estavam fazendo.

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Venho, outrossim, dizer-lhes também da admiração que fortalece meu credo. Explico.

Suas manchetes, pasmem: as vendas da Toyota cresceram 3% no primeiro trimestre; a demanda por carros da Honda já cria filas de consumidores ávidos por adquiri-los. Mas, alertam-nos: apesar da crise! Assim também em manchetes “positivas” outras. Exemplifico: “apesar da crise”, os cinemas no país experimentam o maior crescimento em 4 anos; “apesar da crise”, o Piauí apresenta número crescente de abertura de empresas; “apesar da crise”, os fabricantes de máquinas agrícolas estão otimistas para 2015; “apesar da crise”, brasileiros gastam com produtos de luxo no exterior; ou mesmo, mas sempre “apesar da crise”, brasilienses não abrem mão de viagens, e a produção de batatas atrai investimentos em Minas.

Isto é jornalismo responsável! Não houvesse o alerta, poderia parecer aos incautos que a crise não é tão grande assim. Mas ela é, sim. Apenas a grande, asséptica e despretensiosa mídia tem o dever de não nos deixar menos esquizofrênicos com a crise. O que seria terrível para nós e para o país. Viva a crise! E, claro, viva a mídia grande! Eu creio!

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

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