Delator revela que pagou US$ 5 milhões de propina a Eduardo Cunha
Delator na Operação Lava Jato diz que pagou U$ 5 milhões de propina a Eduardo Cunha (PMDB-RJ). De acordo com Júlio Camargo, o presidente da Câmara controla cerca de 260 deputados e é conhecido por ser uma pessoa agressiva. Tanto o delator como o doleiro Alberto Youssef revelaram que estão sofrendo ameaças por 'gente de Cunha'
O consultor Júlio Camargo afirmou, em depoimento à Justiça Federal [vídeo abaixo], nesta quinta-feira (16), que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o pressionou a pagar US$ 5 milhões em propina. O objetivo do repasse, segundo Camargo, era garantir um contrato de navios-sonda da Petrobras.
Júlio Camargo é um dos primeiros a fechar acordo de delação na operação Lava-Jato. Trabalhou como consultor das empreiteiras Toyo Setal e Camargo Corrêa. Nesta semana, ele voltou a ser interrogado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela condução das investigações, e fez revelações não presentes em seus depoimentos prévios.
Pelo relato dos que acompanharam o depoimento, Júlio Camargo afirmou que Cunha teria lhe dito que estava “no comando de 260 deputados”.
“Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar no Leblon, Rio). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares”, afirmou Camargo. “E isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, se não me engano uma campanha municipal e que ele tinha uma série de compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condição de aguardar.”
Eduardo Cunha é alvo de investigação da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Um inquérito foi aberto para investigar o suposto envolvimento do deputado na Lava Jato.
O delator Julio Camargo depôs em uma das ações penais em curso na 1ª instância da Justiça Federal no Paraná. Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal como testemunha de acusação em processo contra o operador do PMDB Fernando Baiano, ligado a Cunha.
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“Realmente nós estamos com um problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive, pelo deputado Eduardo Cunha”, disse Julio Camargo, atribuindo a frase a Fernando Baiano.
Ainda segundo o lobista, Fernando Baiano disse a ele. “Isso aí vai chegar numa situação muita embaraçosa para mim, mas para você, com certeza vai ser muito mais embaraçosa”.
Youssef
Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos “destinatários finais” de em contratos de navios-sonda da Petrobrás investigados pela Lava Jato.
Em sua versão, em maio de 2015, o doleiro declarou que Eduardo Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. Ele disse que foi procurado pelo lobista Julio Camargo após estes requerimentos.
O doleiro afirmou nesta quinta-feira (16), em depoimento à Justiça Federal no Paraná, que está sendo vítima de intimidação por um deputado federal que integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os supostos desvios de dinheiro da Petrobras. Youssef não identificou o parlamentar, mas disse que é um “pau mandado” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
No vídeo do depoimento feito perante o juiz Sérgio Moro, e divulgado pela Justiça Federal, um advogado que não é identificado pergunta se Youssef vem sofrendo ou tem sentido “alguma pressão em razão desse depoimento específico”.
“Sim, eu venho sofrendo intimidação perante as minhas filhas, perante a minha ex-esposa, por uma CPI coordenada por alguns políticos e que inclusive o nome de um deles foi mencionado aqui por mim”, responde Youssef. “E eu acho isso um absurdo, eu como réu colaborador quero deixar claro que eu estou sendo intimidado pela CPI da Petrobras por um deputado, pau mandado do senhor Eduardo Cunha”, disse.
Vídeo da delação de Júlio Camargo:
com agências