Alvo da CPI dos Trotes, que apurou a existência de até 112 estupros nos últimos dez anos, a Faculdade de Medicina da USP está envolvida em uma nova polêmica. Estudantes fizeram piada com cirurgia de mudança de sexo em episódio de transfobia. Após denúncia, o post foi apagado, mas o debate se instalou
Thiago de Araújo, Brasil Post
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) está envolvida em uma nova polêmica, agora nas redes sociais. Principal alvo da CPI dos Trotes que apurou a possível existência de até 112 estupros nos últimos dez anos, a FMUSP viu alguns dos seus estudantes envolvidos em um caso de transfobia. A denúncia partiu de Daniela Andrade, em sua página no Facebook.
O post foi apagado, mas a foto em questão, compartilhada por ela – também uma transexual – foi a que pode ser vista acima.
Denunciada ao Facebook, a imagem acabou apagada pela rede social. Mas o debate se instalou. Segundo Daniela, ocorreram tentativas de silenciar a denúncia, que teriam partido “de gente que se considera poderosa”. “Nós, travestis e transexuais, já nascemos mortas para tudo nessa vida, mortas para a sociedade, mortas para as políticas públicas, mortas para o respeito tão necessário e que jamais nos é dado. Sobrevivendo nessa sociedade que nos odeia”, escreveu.
Em outra postagem, a transexual criticou o fato dos estudantes envolvidos na polêmica, e até outros que nada tinham a ver com a imagem, terem “ficado ofendidos”. Para ela, “piada com sofrimento humano não é piada” e “qualquer pessoa que prestou um vestibular para lidar com gente, com a saúde de gente, deveria se mancar disso”.
“Você não faz piadas com grupos oprimidos, por que o riso é fácil, a sociedade está o tempo todo debochando de nós, pessoas transexuais. Tentem fazer algum humor inteligente, tentem fazer algo para além do senso comum discriminatório. Afinal, a gente existe no mundo para isso, não é mesmo? Decidiram as pessoas cisgêneras que nossa vocação natural é ser piada de vocês”, continuou.
Desculpas
O autor da postagem, em sua página pessoal no Facebook, pediu desculpas pelo episódio que ele mesmo definiu como “extremamente ofensivo”.
“Como estudante de medicina, sei que tenho um papel importante sobre a intimidade e o sofrimento humano, e uma alta responsabilidade com a sociedade. No dia desta foto – e infelizmente em muitos outros – falhei grosseiramente. Peço sinceras desculpas a toda a comunidade trans e a todos(as) os(as) outros(as) que tenham se ofendido com a minha postagem”, postou.
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