“Crucificada” na Parada LGBT, Viviany Beleboni mostra marcas de violência no rosto, braço e pernas. Atriz afirma que agressão foi motivada por sua interpretação polêmica e diz que está cansada da violência: “Agora vou ficar trancada em casa, que é o que os fanáticos querem”
Conhecida nacionalmente desde que protagonizou um protesto na 19ª edição paulistana da Parada do Orgulho LGBT, no qual encenou uma crucificação, a transexual Viviany Beleboni afirma ter sido violentamente agredida nas proximidades de sua casa, em São Paulo, na noite de sábado (8).
Em vídeo (assista abaixo) de pouco mais de dois minutos postado em sua página no Facebook, Viviany, de 27 anos, exibe ferimentos no rosto, cortes nos braços e pernas, consequências daquela que diz ter sido uma agressão motivada por seu protesto no ato pelos direitos dos homossexuais, realizado em 7 de junho.
“Uma pessoa me reconheceu, tava com uma faca o marginalzinho, mendigo de rua, sei lá o que foi [quem a agrediu]. Falou que eu não sou de Deus, que sou um demônio e que eu tinha de pagar pelo que fiz”, desabafa a jovem no vídeo, no qual exibe o nariz ensanguentado e os olhos inchados.
Confira trechos do relato de Viviany:
“Fazia muito tempo que não saía de casa sozinha, sempre saía com amigas. Fui dar uma volta, estava estressada porque briguei com um amigo. Saí para caminhar ouvindo música. Próximo a minha casa tem um viaduto, passei por lá e dois rapazes começaram a me xingar de filha da p…, de viado.
Tirei o fone porque não estava ouvindo direito, aí disseram ‘Você está f…., isso não se faz’, falando sobre a crucificação na parada gay. ‘Você é um demônio, tem de morrer. Esses pastores estão certos’
Segui reto, mas vieram atrás, foi muito rápido. Vieram com uma faca ou uma gilete, não vi o que era. Me seguraram para tentar cortar a minha barriga, só que não conseguiram, cortaram meu braço. Eu fiquei me abaixando pra me esquivar dos socos, mas mesmo assim estou com o rosto todo machucado, meu nariz está inchado, meu maxilar rasgado.
Fui pra casa, minha vontade era morrer porque eu não aguento mais, depois de tudo o que aconteceu. Não consigo fazer mais nada, estou há dois meses e meio sem trabalhar, só tirando dinheiro da minha conta. Aí meu amigo veio em casa e me fez os curativos, tomei três remédios tarja-preta para dormir.
Só queria ser atriz, trabalhar, ter dignidade. Nunca precisei falar mal de ninguém, sempre busquei coisas fora da prostituição para provar que travestis poderiam fazer outras coisas. O que vou fazer agora? Vou ter de ir para a rua trabalhar? Mas é muito complicado, estou pensando em me matar, em fugir. Eu não tenho segurança. Estou cansada disso. Não consigo me sentir segura dentro do meu próprio apartamento, a cada barulho acho que alguém vai entrar e me dar um tiro. A janela fica aberta o tempo todo e eu fico pensando em pular
(…)
As pessoas perguntam: ‘Vai fazer um B.O [Boletim de Ocorrência]? Vai à delegacia?’ Para quê? Para me tratarem que nem um homem lá? Para rirem da tua cara e não dar em porra nenhuma? Não, eu não vou! Sabe o que tenho de fazer? Ficar trancada na minha casa, porque é isso que esses religiosos, esses fanáticos, querem. Estou cansada disso, de ser ameaçada por pessoas que não gostaram do meu ato [protesto na parada], que foi de amor, para lutar por pessoas que nem eu, que estão sangrando.”
Vídeo:
com agências