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‘Ela é negra e não serve para entrar na família’

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Única apresentadora negra do esporte na TV fechada conta episódios em que foi vítima de preconceito racial na escola e até em namoro. Karine Alves cobra mais diversidade no jornalismo e diz que vibra toda vez que vê novos âncoras e jornalistas negros na TV

Karine Alves é a única apresentadora negra em canais esportivos da TV fechada (divulgação)

Nascida no Rio Grande do Sul, Karine Alves quebrou barreiras e hoje se tornou a única apresentadora negra nas emissoras esportivas da TV fechada.

A apresentadora vibra cada vez que vê jornalistas e âncoras negros na TV, que tem oportunidade de mostrar sua competência e ganham espaço ao exibir seus talentos. Diz que nunca sofreu preconceito por questão racial no trabalho. Mas, na vida pessoal, chegou a vivenciar algumas situações delicadas, inclusive até com a família de um ex-namorado. Nada que deixe feridas e mágoas na despojada jornalista. Apesar das situações ruins, Karine fala com tranquilidade sobre o tema. As informações são do UOL Esportes.

“Passei por diversas situações. Quando era criança, em uma creche, percebia que os coleguinhas não aceitavam minha cor, estragavam minhas coisas, casaco, lancheira. Eles sempre falavam: ‘vamos estragar casaco da negra’. Eu não entendia, não dava bola. Um dia, minha mãe me deu uma lancheira nova e, em cinco minutos, destruíram. Passei a tarde chorando, minha mãe percebeu e conversou com a professora e perceberam que não me aceitavam pela cor. Ela conversou comigo e disse que ia me mudar de escola por implicar com a cor da minha pele”, disse.

“Depois, foi quando tive um namorado. Quando a família descobriu que a gente estava namorando, contamos para eles, nossa, minha vida virou inferno. Eu não entendia porque não aceitavam até que foi verbalizado: ‘ela é negra e não serve para entrar na família’. Foram dois anos assim. Eu perdoei eles e hoje converso com elas, passou um tempo, hoje eu já sirvo, mas até então não servia porque era negra”, completou.

Hoje, com a carreira já consolidada, Karine quer ser justamente o que não teve quando era mais nova, uma referência de negra na televisão sem precisar alisar cabelo. “Quando eu procurei ser jornalista, sempre busquei na televisão referências, mas a única que eu tinha de repórter despojada era a Gloria Maria. Mas eu não me reconhecia nela, olhava cabelo e via um cabelo alisado, me via apenas na questão de como ela conseguiu chegar. Hoje, cada vez que vejo uma pessoa, não só por ser negro, mas nessa condição em que muitos não chegam, eu vibro sim, vibro vendo isso”, afirma. Ela faz questão de assumir sua natureza.

“Sempre me viram assim, uma pessoa que assume o cabelo crespo, assume a natureza. No jornalismo geral da TV, você não encontra muitas negras como âncoras, que assumem como são, o cabelo, a raiz. Acho que o cabelo fala muito, eu sempre mantive essa postura. Eu sou essa pessoa, tenho esse cabelo, esse corpo. Se me querem, é assim e sempre fui muito respeitada. Na própria Fox, que trabalha a imagem, sempre tivemos um consenso bacana, nunca pediram para mudar o cabelo”, falou.

informações de UOL Esportes

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