Escândalo da Volkswagen: “Ferramos tudo”, admite diretor da montadora
“Ferramos tudo”, diz diretor da Volkswagen nos EUA sobre fraude. Empresa reconheceu que 11 milhões de carros foram adulterados em todo o mundo. Presidente global da montadora anunciou sua renúncia em meio ao maior escândalo nos 78 anos de história da VW
O principal executivo da Volkswagen nos Estados Unidos, Michael Horn, pediu reiteradas desculpas pelo escândalo de falsificação das emissões de poluentes nos seus carros a diesel nos EUA, que veio à tona na sexta-feira, e se comprometeu a recuperar a confiança dos consumidores norte-americanos.
“Ferramos tudo”, disse ele após admitir o erro. “Fomos desonestos com a EPA [agência federal de proteção ambiental], fomos desonestos com o conselho da ARB [agência californiana de controle da qualidade do ar], fomos desonestos com todos vocês”, afirmou Michael Horn.
“Precisamos arrumar os carros para evitar que isso volte a acontecer, e precisamos fazer isso direito. Esse tipo de comportamento vai totalmente contra os nossos valores”, declarou ele na noite de segunda-feira no Brooklyn (Nova York), durante o evento de apresentação de uma nova versão do modelo Passat, com a participação do roqueiro Lenny Kravitz.
Horn e outro executivo do grupo cancelaram uma entrevista a jornalistas que havia sido previamente combinada e se recusaram a responder perguntas, na primeira aparição pública de um alto executivo da Volkswagen nos Estados Unidos desde que o escândalo estourou. A EPA e a ARB da Califórnia informaram na sexta-feira que a Volkswagen havia instalado em mais de meio milhão de veículos um dispositivo que servia para burlar os controles de emissões de partículas poluentes.
“Estamos comprometidos em fazer o que deve ser feito e a começar a restaurar a confiança”, afirmou Horn. “Pagaremos o que tivermos que pagar”, acrescentou.
O maior fabricante de automóveis da Europa pode sofrer multas de bilhões de dólares, além de processos penais contra seus executivos e um golpe para a sua imagem que arruinaria os planos de alavancar suas vendas nos EUA. O Departamento de Justiça norte-americano está promovendo uma investigação criminal, segundo fontes oficiais familiarizadas com o assunto.
Mais poluição
A empresa vendeu versões a diesel de veículos das marcas Volkswagen e Audi com um software que só ativa completamente os controles de poluentes quando o carro está sendo submetido a testes de emissões. Durante o uso normal no trânsito, os carros poluíam 10 a 40 vezes acima dos limites legais, segundo a EPA.
Os modelos afetados incluem as versões a diesel do Passat, assim como o VW Beetle, o Jetta e o Golf. O Audi A3 também está sendo investigado. No mês passado, os modelos a diesel representaram 23% das vendas da marca VW nos EUA, segundo nota da companhia à imprensa
Renúncia do presidente
No final, a pressão foi forte demais. Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen desde 2007 e que há apenas cinco meses havia ganhado uma disputa pelo poder com o patriarca Ferdinand Piëch, caiu vítima do maior escândalo nos 78 anos de história da montadora. “A Volkswagen precisa se renovar, também do ponto de vista pessoal. Estou disposto a abrir o caminho da renovação com minha renúncia”, disse Winterkorn em comunicado.
O até agora chefe máximo da Volkswagen tentou permanecer no cargo. Um dia antes de sua renúncia, insistia em pedir desculpa e em se apresentar como o homem que deveria ganhar de novo a confiança dos clientes. Mas a fraude das emissões de gás foi grande demais para não repercutir na cúpula da maior fabricante de carros do mundo.
A renúncia já parecia muito provável no domingo, quando a empresa admitiu as acusações das autoridades ambientais norte-americanas. Mas pouco depois tornou-se irremediável. Em dois dias, a Volkswagen perdeu na Bolsa 35% de seu valor, reconheceu que o número de veículos afetados sobe para 11 milhões (em vez dos 482.000 iniciais) e mobilizou 6,5 bilhões de euros (cerca de 28,6 bilhões de reais) para possíveis perdas. Além disso, países como EUA, Alemanha, Itália, França e Coreia do Sul anunciaram investigações.
A Promotoria de Brunswick (cidade da Baixa Saxônia, Estado alemão que possui 20% das ações do grupo) havia anunciado horas antes que também estuda abrir uma investigação.
EL País