Aécio é recebido por presidente do TCU às vésperas do julgamento das contas de Dilma. Senador afirmou, no entanto, que visita não serviu para “interferir” no julgamento, e sim para que Tribunal atue “com independência e isenção”. Relator do processo é investigado pelo MPF e Polícia Federal
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que não foi recebido pelo presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz, na tarde desta terça-feira (6), para “interferir” no julgamento do exercício fiscal do último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), agendado para amanhã, a partir das 17h.
Segundo Aécio, o TCU abriu as portas para a oposição ao governo para receber apoio após ter sido atacado de maneira “vil” e “grosseira” pelo Planalto, que anunciou, no último domingo, a estratégia de pedir o afastamento do relator das contas de Dilma, Augusto Nardes, por ter antecipado seu voto contra na imprensa.
“Não viemos aqui interferir no mérito da decisão que deverá ser tomada, mas apenas garantir que o Tribunal de Contas possa fazer aquilo que faz com que a sua existência se justifique: atuar com independência, com isenção, com base em pareceres técnicos”, disse Aécio.
Na visão do candidato derrotado por Dilma na última disputa presidencial, o fato de a oposição se dirigir ao TCU na véspera do julgamento não é “politizar” a questão. “A politização veio exatamente do governo federal, da AGU. O advogado-geral há muito deixou de ser advogado-geral para ser um assessor político da presidente da República, inclusive atacando a oposição. O que estamos fazendo aqui hoje é defendendo o Tribunal de Contas contra uma ação política escancarada do governo federal e de seus ministros”, comentou.
Relator investigado
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e relator do processo relativo às contas do governo Dilma, Augusto Nardes, é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) sob suspeita de ter recebido R$ 1,65 milhão de uma empresa que estaria envolvida com fraudes fiscais.
De acordo com a apuração, Nardes foi sócio até 2005, junto com seu sobrinho Carlos Juliano, da empresa Planalto Soluções e Negócios, alvo da Operação Zelotes. A Planalto teria recebido pagamentos da SGR Consultoria, suspeita de corromper membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão responsável por julgar recursos contra multas aplicadas pela Receita Federal.
No total, os pagamentos chegaram a aproximadamente R$ 2,6 milhões entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012. Nesse período, Nardes era ministro do TCU e havia se desligado oficialmente da empresa. A investigação aponta que há citações a Nardes em mensagens telefônicas da secretária da SGR, onde ele seria identificado como “Tio”, tendo recebido R$ 1,65 milhão. Outros R$ 906 mil foram direcionados para “Ju”, que a investigação acredita ser o sobrinho do ministro.
Segundo a apuração do MPF e da PF, Nardes pode ter recebido o pagamento por trabalhar a aproximação da SGR do grupo gaúcho de comunicação RBS, que tinha pendências no Carf. O ministro foi deputado federal pelo PP do Rio Grande do Sul entre 1995 e 2005.
Nardes diz desconhecer os pagamentos. Como membro do TCU, ele só pode ser investigado e processado com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Os autos referentes à apuração foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República nesta terça (6) e o órgão deve decidir se prossegue ou não com as investigações referentes a Nardes e seu sobrinho.
GGN e Folhapress
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook