Acabou-se o que era doce
André Falcão*
Era uma vez uma empresa de nome poético como a região onde fazia morada: Vale do Rio Doce. Considerada a maior empresa de mineração do mundo, pertencia a um país chamado Brasil. Um dia, um príncipe, que reinava naquele país embora o regime não fosse oficialmente monárquico, tanto que nele havia um parlamento com vários representantes do povo, mas que ao povo não representavam, salvo uma minoria bastante minoritária, entendeu que o tal do Brasil, que estava devendo a deus e ao mundo, desrespeitado e desacreditado internacionalmente, deveria vender tudo o que tinha. Seu argumento, defendido pela grande mídia que lhe era subserviente, entre outras razões porque desfrutavam de muitas benesses, e deviam satisfação ao grande patrão, chamado EUA, todos escravos voluntários do seu deus, o capitalismo, era o de que o Brasil necessitava vender o que tinha para melhorar o emprego, educação, saúde, segurança, agricultura, representados pelos cinco dedos da mão de Sua Majestade.
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Aí então o príncipe passou a vender o que via pela frente, inclusive a VRD. Vendia muito barato. E ainda ajudava os interessados, emprestando-lhes o dinheiro do país, em condições de pai para filho, para que esses comprassem o que o país oferecia. Alguns dizem que assim foi porque o príncipe era ruim de matemática. Outros, que houve muita ladroagem, comprovadas ou comprováveis, mas não deve ser verdade, já que as denúncias eram arquivadas pelo assessor geral do príncipe, que certamente o fazia porque deviam ser descabidas. A própria polícia do príncipe trabalhou muito pouco naqueles oito anos de reinado: apenas 48 operações, sinal de que estava tudo certo. Porém, os problemas do país, mesmo com a liquidação promovida, agravaram-se, inclusive aqueles dos cinco dedos.
Enquanto isto, a Vale do Rio Doce, antes orgulhosa de seu nome, homenagem às águas que eram e davam vida, sob novos donos entendeu de rebatizar-se, excluindo-o. Passou a chamar-se apenas Vale.
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O que não se esperava, salvo para aqueles que conhecem bem de perto o deus capitalismo, é que a nova Vale iria extirpar o rio também da vida de toda a população daquela região daquele país. Sob os auspícios do seu deus, o Capitalismo, matou o rio Doce. Morreram também o Claudio, o Sileno, o Waldemir, a Emanuely (cinco aninhos, ela tinha), o Thiago, o Marcos Xavier, o Marcos Aurélio, a Maria Elisa, a Maria das Graças, o Antonio… Já são onze. Desaparecidos outros tanto. Foi no Brasil, essa tragédia. No Brasil.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político