"Ela se esfregava no banho porque achava que a cor ia sair", diz mãe de menina vítima de racismo aos 4 anos. Criança ouviu de colegas da escola que sua cor é de "gente suja" e o cabelo é "ninho de bicho"
A assistente sênior Gabriela Gaabe é mãe de Lorena, uma menina de cinco anos. Antes de completar quatro anos a criança sofreu, pela primeira vez, racismo. Naquele dia, a mãe chegou do trabalho, a filha olhou para ela e disse que não queria mais ser negra.
A mãe ficou surpresa e tentou entender o que tinha acontecido naquele dia. A resposta foi que o ato racista tinha acontecido dentro da escola e partido das outras crianças que estudavam com a menina. Quando a Gabriela perguntou para Lorena o que tinham dito para ela, veio o relato: “Falam que minha cor é de gente suja e que meu cabelo é de ninho de bicho”.
Gabriela conversou com a filha e ligou para a escola. Quando falou com o diretor da instituição, a resposta que recebeu dele foi que aquilo “não era coisa da escola, que ele duvidava que as crianças estavam falando aquilo e que isso poderia estar vindo de dentro de casa”.
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“Eu falei que não. Não existe preconceito dentro da minha casa. Achei agressivo da parte dele falar que o preconceito vinha de dentro da minha casa”.
A mãe de Lorena diz que aquele foi o primeiro contato da filha com o problema do racismo e que foi, também, a primeira vez que ela tinha presenciado algo do tipo com a filha dela.
“Ela se esfregava no banho porque achava que a cor ia sair”.
Para ajudar a filha a superar o trauma e fazer com que ela fosse forte para conseguir encarar outros momentos como esse, a mãe começou a trabalhar a autoestima da menina, buscando a representatividade. Ela mostra para a filha mulheres negras importantes, para que ela possa se ver representada em outras pessoas de sucesso.
“Uma vez ela me perguntou porque não tinha princesa negra e atriz negra em peça para criança”.
Gabriela sempre frequentou peças de teatro com a filha. Mesmo proporcionando momentos culturais para a criança, ela não se reconhecia nos personagens. Pensando nisso, a mãe resolveu, aos 28 anos, começar a estudar artes cênicas.
“Entrei no teatro pela minha filha e por outras crianças que precisam ter essa visibilidade. Quero mostrar para ela que existe princesa negra e que ela pode ser o que ela quiser”, contou Gabriela.
Giorgia Cavicchioli, R7
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