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Seis erros do discurso que afirma que “amamentar é coisa de pobre”

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Confira seis erros conceituais – com base em pesquisas sobre amamentação e profissionais especializados – do post da universitária que divulgou uma imagem de uma mulher amamentando acompanhada de um texto repleto de preconceitos e mitos acerca do ato de amamentar

Uma postagem no Facebook, uma foto, mais de 12 mil compartilhamentos no intervalo de quatro dias e uma enxurrada de críticas que renderam um “mamaço virtual” sem precedentes. Usando a hashtag #pobrefazendopobrice mães de todo o país divulgaram fotos de amamentação em repúdio ao comentário de uma universitária de Campinas (SP) postado no Facebook.

No último dia 31, ela divulgou a foto de uma mulher amamentando uma criança enquanto andava de bicicleta e chamou o ato de “pobre fazendo pobrice”. Em seu comentário, a universitária publicou um parágrafo de argumentos contra a amamentação que – considerando pesquisas de organizações reconhecidas internacionalmente e especialistas em nutrição infantil – estão permeados de preconceitos e mitos acerca do ato de amamentar.

Listamos seis erros conceituais do texto da universitária, com base em pesquisas sobre a amamentação e na opinião de especialistas:

1) “POBRE FAZENDO POBRICE! Vai em um bairro nobre, ou em um restaurante fino pra vc ver se encontra mulher com o peito pra fora?! Kkkkkkkkk! JAMAIS! Elas levam mamadeira! Como eu fazia! Ou no mínimo colocam uma fraldinha pra tapar o peito! Isso se chama BOM SENSO!” (sic)

Diante dos inúmeros benefícios da amamentação e da crescente conscientização da população acerca do aleitamento, o bom senso tem guiado a opinião pública no sentido oposto. Prova disso são decisões como a da prefeitura de São Paulo, que estabeleceu multa aos estabelecimentos que proibirem ou causarem constrangimento à amamentação . Em resposta às atitudes que tentam restringir os espaços para amamentação, espalharam-se pelo país eventos em apoio à causa, como os mamaços e outros projetos que buscam a naturalização do ato. Um deles foi um projeto fotográfico que incentivou a naturalização do ato de amamentar. A amamentação ainda esbarra em barreiras culturais que deixam as mulheres inseguras nesse papel.

Já a mamadeira, citada no comentário da polêmica postagem do Facebook, pode provocar prejuízo à criança. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatra, entre eles estão a dificuldade e redução no tempo de amamentação, oclusão dentária (que leva à deformação na arcada dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral, problemas na fala e emocionais); prejuízos respiratórios; redução do espaço aéreo dos seios da face que provoca desvio do septo nasal; redução da produção da saliva, que pode aumentar o risco de cáries; maior risco de irritações da orofaringe, laringe e pulmões; infecções de ouvido, rinites e amigdalites; candidíase oral (sapinho) e verminoses. Por isso a recomendação da Unicef é de não usar mamadeira, sempre que a mulher tiver condições de garantir o aleitamento materno.

2) “Essa ridícula aí ta querendo aparecer!”

Para 55% da população brasileira, segundo pesquisa da Global Lansinoh, amamentar em público é um gesto natural. Apenas 2% afirmam ser errado. O texto afirma, inclusive, que as mães que não amamentam se sentem culpadas porque são conscientes dos benefícios da amamentação. A maioria das pesquisadas diz que gostaria de ter amamentado por mais tempo.

3) “E outra, depois dos 6 meses a criança já começa a comer outros tipos de alimentos e não é necessário ficar amamentando a qualquer momento e em qualquer lugar não!”

Essa não é a avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou mesmo do governo brasileiro. A amamentação, segundo o Ministério da Saúde, é muito mais do que alimentar a criança. Traz muitos outros benefícios como o desenvolvimento afetivo-emocional e até cognitivo do bebê. É um mito que a amamentação não seja útil nesse período. Inclusive, a campanha da OMS de 2014 incentivou a amamentação até os 2 anos de idade ou mais.

Quanto ao lugar, não há impedimento para o ato. Nem mesmo no local de trabalho. Recentemente, o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, afirmou que “faz sentido econômico” garantir que as mães disponham de tempo e espaço para amamentação dos filhos no emprego. A amamentação em ambiente de trabalho foi o tema da campanha deste ano da Semana Mundial do Aleitamento Materno, que aconteceu em todo Brasil e mais 170 países.

4) “Essa história de amamentação é um programa de incentivo do governo pra fazer as coitadas das pobres virarem umas vacas leiteiras e ficar amamentando até 2 anos de idade! Economia pro governo! Imagina se toda a pobraiada que se empenca de filhos resolvessem dar NAN (mamadeira) para toda a sua penca? O governo tava lascado! Eles incentivam amamentação e cada uma que se vire com os peitos mesmo…”

De fato, o governo economiza com a amamentação já que o leite materno previne várias doenças e poupa recursos do sistema de saúde. Ao incentivar o aleitamento materno, poupa-se com a compra de medicamentos para curar diarreia, infecção respiratória, bronquites e pneumonias, principais causas de óbito de bebês até 6 meses. Também se previne asma, alergias, obesidade e diabetes quando adulto.

Recentemente, a presidente Dilma Rousseff assinou um decreto que restringiu a publicidade de produtos que atrapalham a amamentação.”O decreto que assinei visa estimular o aleitamento materno e ao mesmo tempo estabelece regras mais precisas para a comercialização de alimentos e produtos para as nossas crianças de até 3 anos. Amamentação e alimentação saudável desde pequenininho resultarão em crianças com desenvolvimento mais elevado, mais capazes de bem conduzir o nosso país no futuro”, disse a presidente em seu discurso.

5) “Agora, quem tem dinheiro não segue esse incentivo… Eu nunca amamentei meu filho e ele é lindo e saudável! O NAN hoje em dia é completamente igual ao leite materno em questão de nutrição!”

O NAN, a que ao comentário se refere, é uma espécie de leite em pó, que não é igual ao leite materno. As fórmulas que existem no mercado não contêm os anticorpos, células vivas, enzimas, ou hormônios presentes no leite materno. Contêm sim, muito mais alumínio, magnésio, ferro e proteína, o que ajuda o bebê a crescer bem, mas sem muitas propriedades e benefícios gerados à saúde do bebê, pela amamentação. E há vários outros motivos pelos quais as fórmulas não devem substituir a amamentação, segundo o Ministério da Saúde. Não por acaso, é obrigatório constar nos rótulos dessas fórmulas alertas como: “O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os dois anos de idade ou mais” ou ainda “O Ministério da Saúde adverte: este produto não deve ser usado para alimentar crianças, salvo sob indicação expressa de médico ou nutricionista”.

Estudos mostram que o leite materno reduz o risco de leucemia, asma, alergias, obesidade, diabetes, torna crianças menos agressivas e até aumenta a inteligência.

6) “Hoje em dia não tem mais necessidade de amamentar dessa maneira! O mundo tá evoluindo gente! Só que custa muito caro! Mas eu optei por isso… A criança mama com muito mais facilidade, fica mais tranquila, dorme melhor, não tem dor de barriga e você leva a mamadeira pra qualquer lugar e não passa vergonha com o peito de fora…”

Quanto à possibilidade de a criança ficar mais tranquila com a mamadeira, pesquisas apontam que o aleitamento materno reduz a agressividade. Quanto a dormir melhor, não há evidências científicas sobre a melhoria do sono com o leite materno ou artificial. Na verdade, dormir bem tem mais ligações com a hábitos de sono.

Quanto à dor de barriga, o leite materno, na verdade, reduz a incidência de cólicas porque “a gordura do leite é própria para o consumo do bebê, ao contrário do que ocorre com outros leites, como os de vaca ou os de fórmula, cujo peso molecular é alto. A do leite materno tem peso molecular baixo e isso facilita a digestão do bebê. É um bebê mais ativo, que interage mais com a família”, ressaltou a coordenadora de processamento e qualidade da Rede Brasileira de Leite Humano, Danielle Aparecida da Silva, nessa reportagem.

Adriana Franzin, Portal EBC

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