Sou gorda – não cheia de curvas, gorda. Tenho um barrigão, e meu corpo chacoalha quando eu ando.
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Costumo ser a pessoa mais gorda em qualquer ambiente e aceito esse papel sem problema nenhum. Adoro meu corpo e não me odeio.
Amo todas as minhas imperfeições e dobrinhas. Nunca quis ser magra.
A sociedade me diz que essa ideia é radical. Não é. Existem outras meninas assim. Só não nos dão espaço para que sejamos visíveis. Acho que me colocaram na Terra para ser colorida e ocupar espaço, e não tenho vergonha nenhuma disso.
A mídia nos diz que temos de viver uma vida de humilhações, parar de comer cheesebúrguers e esconder nossos corpos. Nos dizem para vestir algo “mais lisonjeiro” e “não mostrar tanto o corpo” e “esconde esses peitos, Melissa, você está assustando as crianças”.
Me desculpe, eu teria esse volume todo mesmo se estivesse de gola rolê. E estou cansada de escondê-lo.
Também nos dizem que ninguém vai querer transar com a gente, especialmente alguém atraente, no sentido convencional.
É só olhar para qualquer revista feminina – impossível achar uma dobrinha! Meu próprio pai me disse, quando eu tinha 10 anos, que nenhum homem seguraria minha mão se eu não perdesse peso e parasse de roer as unhas. RISOS
Pai, agora eles querem muito mais que segurar minha mão.
Sou gorda e transo com desconhecidos, alguns até bonitos. Recentemente fiz uma viagem de carro com minha mãe de Los Angeles para o Oregon, onde moro.
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Foram umas miniférias antes de me mudar para Portland, onde vou estudar arte, começar um negócio de fotografia de boudoir e viver perto de outras mulheres que, como eu, têm uma imagem positiva do corpo – além de barbudos lindos que nos amam.
Minha mãe gosta de fazer tudo devagar, então ela só queria dirigir três horas por dia.
Ou seja, ficamos em quatro hoteis diferentes em cinco dias. Em parte inspirada pela Marcha das Vadias Amber Rose, que estava acontecendo na época da minha viagem, em parte por amar aventuras, me joguei no Tinder, arrastando homens e mulheres para a direita assim que o avião pousou em Los Angeles.
Sigo Amber Rose no Instagram e fico furiosa vendo as mulheres brigando por causa do que elas escolhem fazer com seus corpos.
Também acho perturbador ver homens achando que têm direito de posse só porque uma mulher decide mostrar em público parte do corpo, ou então sua sexualidade.
Para mim, ser chamada de vadia não é degradante. Considero um símbolo do que eu escolho fazer com o MEU corpo. Meu corpo lindo, fofo e cheio de curvas.
Para minha surpresa, as pessoas de Los Angeles usam como ninguém a opção “Super Like” do Tinder, o que facilitou bastante minha aventura.
Antes de chegar ao primeiro hotel, estava conversando com seis ou sete desconhecidos bem bonitos.
Descobri que a maioria dos caras que querem sexo casual não são bizarros nem estupradores. Eles só querem sentir prazer e se conectar, nem que seja por um breve momento. Como eu.
Sexo não precisa ser nada de mais. Sexo não precisa de amor para ser incrível. Pode ser simplesmente prazer mútuo, dois corpos ou mais se encaixando e se complementando.
Tenho um processo de seleção bastante estrito para escolher caras, e ele nunca me causou problemas. Minhas fotos do Tinder são bastante sugestivas.
Se um cara consegue conversar comigo sem ser nojento nem exigente, dou o sinal verde e continuamos conversando mais um pouco, até combinarmos um encontro. Percebo fácil esse direito de posse que alguns homens demonstram.
Só porque uma mulher está mostrando um pouco do corpo não significa que você tem o direito de esperar transar com ela.
Toda mulher deveria se sentir no direito de dizer não, mas elas também deveriam se sentir no direito de dizer sim.
Às vezes nos encontramos para tomar um café, às vezes rola um encontro de verdade, às vezes vou para a casa deles e em 15 minutos já estamos transando, às vezes eles vêm para o meu hotel às 2h e falamos sobre o Louis C.K., damos risada e nos jogamos, parece que somos velhos amigos.
Realmente depende da vibe que eu estiver sentindo e do que for acertado entre a gente.
Nos cinco dias seguintes, eu disse “sim”. Fiz minha Marcha das Vadias cada noite em uma cidade diferente, com minha mãe no quarto ao lado.
Curiosamente, dois dos caras vão para Portland regularmente.
Tenho certeza de que vão rolar repetecos em algum momento.
Cada cara era bonito à sua maneira. Todos me deixaram muito à vontade e foram respeitosos. O respeito mútuo é essencial, mesmo que o que esteja rolando não seja nada respeitoso.
Minha melhor amiga é a autora dessa frase. Ela é a melhor definição de como encaro os relacionamentos sexuais.
Quando comecei a sair com desconhecidos, avisava que não era “pequena”. Acho que estava me agarrando a um restinho de constrangimento em relação ao meu tamanho.
Achava que tinha de fazer esse alerta, tipo: “Se prepare, pessoal, sou gordinha”.
Parei com isso. Todos os caras com quem conversei elogiaram meu corpo. Nunca ninguém me deu um cano ou saiu andando depois de me ver ao vivo.
Nunca fui tão grande e, ao mesmo tempo, nunca me senti tão sexy e tão presente no meu corpo.
Não tenho mais medo dos meus desejos ou de tirar a roupa na frente dos outros. Sou dona da minha sexualidade e das minhas escolhas.
Tenho de agradecer a algumas pessoas por isso. E não, não vou te dar meu telefone.
Melissa Mankins, HuffPost. Tradução: Brasil Post
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