Categories: Racismo não

Cantor vai alterar música “Cabelo de Chapinha” após protestos

Share

Cantor Bell Marques compareceu à sede do Ministério Público para assinar documento em que se compromete a alterar letra da música “Cabelo de Chapinha”. Canção foi considerada machista e racista por fãs e organizações sociais

O cantor Bell Marques, um dos nomes mais consagrados do carnaval de Salvador

O cantor Bell Marques compareceu nesta segunda-feira, 14, na sede do Ministério Público para firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). No documento, ele se compromete em alterar a letra da música “Cabelo de Chapinha”, lançada na última semana.

De acordo com o TAC assinado, o vocalista será obrigado ainda a fazer uma campanha contra o racismo e machismo durante o Carnaval de Salvador em 2016.

Após anunciar pelo Facebook que sua aposta para o Carnaval é a música “Cabelo de Chapinha”, o cantor Bell Marques virou um dos nomes mais comentados da internet. A letra da música foi considerada machista e racista por muitos fãs e movimentos sociais.

“A música atinge duplamente a mulher, em especial a mulher negra. Fala de um homem que espera adequação da imagem da sua parceira ao gosto dele. E tem abordagem racista, quando ratifica as opressões que os corpos negros vêm sofrendo. É a imposição de um padrão estético que não nos contempla”, explicou a antropóloga Naira Gomes, idealizadora do movimento Empoderamento Crespo, ao Jornal MASSA!

Um dos compositores da música, Filipe Escandurras também falou sobre a canção: “A música é alegre, como a maioria das minhas canções. Quis mostrar que existem outras formas de dizer ‘eu te amo’. Afinal, a mulher é minha, tenho o direito de escolher e pedir pra ela colocar o corte ou o vestido que eu mais gosto”.

O artista também usou sua rede social para se solidarizar com o autor da letra. “Muito boa essa forma gentil que o compositor encontrou para enaltecer sua amada e que deveríamos aplaudir, pois essa é a mensagem da música: gentileza e amor”, disse Bell.

Defensoria Pública

Diferentemente de Bell e Escandurras, a ouvidora-geral da Defensoria Pública, a socióloga Vilma Reis acredita que a música pode contribuir para a violência doméstica. “Muitas mulheres vivem situações extremas de violência, porque as coisas foram tratadas como brincadeiras. Uma sociedade que opina na estética vai querer exercer controle social sobre o corpo dessa mulher”, diz.

A advogada Dandara Pinho, que também presidente da Comissão Especial de Igualdade Racial da OAB-BA, já tinha adiantado que a música podia virar caso da Justiça. “‘Cabelo de Chapinha’ é uma agressão, pois reforça o poder dos homens, incentiva o machismo e quebra a autonomia feminina, quando a mulher precisa fazer algo para agradar a seu parceiro”.

Confira a íntegra da letra da música Cabelo de Chapinha:

“Minha nega, vai lá no salão faz aquele corte que seu nego gosta de te ver
Me traz seu coração, porque essa noite só vai dar eu e você
Com esse amor ninguém pode
Só água na cabeça
Pra apagar o fogo
Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha
Ô tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha
Ô tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho”

A Tarde

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook