Alvarinho, filho de Álvaro Garnero, chamou Chico Buarque de 'bandido' na noite da última segunda-feira. Curiosamente, um bandido confesso foi contratado para dirigir a área de petróleo e gás da empresa de sua família: Paulo Roberto Costa
Fernando Brito, Tijolaço
O mais engraçado do mundo são as voltas que o mundo dá.
O playboy Álvaro Garnero Filho, filho do playboy Álvaro Garnero e neto do polêmico Mario Garnero – condenado a cinco anos de prisão por estelionato e fraude contra o sistema financeiro pela Justiça Federal, sentença depois anulada pelo STF – vive, ao que se saiba, da Brasilinvest.
E quem se tornou dirigente da Brasilinvest para a área de petróleo e gás, em 2012, logo depois de ter sido demitido por Dilma Rousseff da Petrobras, onde roubou aos montes?
Sim, ele mesmo, Paulo Roberto Costa.
Saiu no site Petronotícias em 15 de agosto de 2012.
Alvarinho é o jovem que foi tomar satisfações com Chico Buarque dizendo que este apóia bandidos.
Bandidos, como se vê, conseguem lugar na empresa que garante a boa vida do rapaz.
A elite brasileira é uma comédia pastelão.
Não é à-toa que o educadíssimo Chico postou hoje, no Facebook – assim, meio “sem querer, querendo” – a sua música “Vai Trabalhar, Vagabundo”.
Eles não vão, não…
Leia, abaixo, texto do jornalista Luis Nassif, originalmente publicado no Jornal GGN, que conta a história nebulosa do avô de Alvarinho:
A história do avô do rapaz que ofendeu Chico
O rapaz que ofendeu Chico Buarque é pouco informado sobre as aventuras de seu avô, Mário Garnero com o PT.
Garnero foi uma liderança estudantil importante. Depois, casou-se com uma herdeira do grupo Monteiro Aranha e passou a representar o sogro no capital da Volkswagen. Lá, como diretor de Recursos Humanos, conheceu e aproximou-se de Lula e dos sindicalistas do ABC.
Mas toda sua carreira foi pavimentada no regime militar.
Foi responsável por um seminário internacional em Salzburg, visando vender o país aos investidores externos no momento em que os ecos do Brasil Grande projetava a imagem do país no mundo.
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Do seminário nasceu o Brasilinvest, um dos primeiros bancos de investimento do país tendo como acionistas diversos grupos internacionais. Garnero arrebentou com o banco desviando recursos para holdings fantasmas, como forma de se capitalizar para conquistar o controle absoluto da instituição. Quando terminou a operação, viu-se dono de um banco quebrado.
Antes disso, era o menino de ouro dos militares. Tornou-se num anfitrião de primeiríssima acolhendo em sua casa, ou em um almoço anual nas reuniões do FMI, a fina nata do capitalismo mundial. Tornou-se, de fato, um dos brasileiros mais bem relacionados do planeta. Mas jamais conseguiu transformar o relacionamento em negócios legítimos. Não tinha a visão do verdadeiro empreendedor. Terminou cercado por parceiros de negócio algo nebulosos, principalmente depois que passou a perna dos demais acionistas do Brasilinvest, grandes corporações internacionais.
Acabou se convertendo na bomba relógio que João Batista Figueiredo deixou para Tancredo Neves. A desmoralização final dos militares foram os escândalos da Capemi, brilhantemente cobertos para a Folha pelo nosso José Carlos de Assis.
Figueiredo impediu Delfim Netto de ajudar Garnero, vaticinando: o Brasilinvest será a Capemi do Tancredo (correção: o lobby de Garnero vinha de outros setores do governo; Delfim, mesmo, detestava-o) . A razão maior era a presença, no Conselho de Administração, de Aécio Cunha, pai de Aécio e genro de Tancredo (correção: foi outro genro de Tancredo, Ronaldo do Valle Simões, personagem muito mais polêmico do que Aecio Cunha) . E também de personagens de peso na vida nacional da época, como o presidente da Volskwagen Wolfgang Sauer, Helio Smidt, da Varig e o publicitário Mauro Salles.
Colhi depoimento de Sauer sobre o episódio e testemunhei o alemão de ferro chorar na minha frente pela traição do amigo Garnero.
Percebendo a armadilha, Tancredo incumbiu seu futuro Ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, de não facilitar em nada a vida da Brasilinvest. Sem o amparo do futuro presidente, o Brasilinvest afundou.
Já no governo Sarney, da derrocada de Garnero valeu-se Roberto Marinho para tomar-lhe o controle da NEC Telecomunicações.
Depois disso, continuou a vida tornando-se uma espécie de João Dória Junior internacional. Aos encontros anuais da Brasilinvest comparecia a fina flor do capitalismo – e modelos belíssimas. Aliás, a capacidade de selecionar mulheres para terceiros era uma das especialidades de Garnero, que conseguiu um encontro de Gina Lolobrigida para seu sogro. Ele mesmo tinha visa pessoal discreta.
No início do governo Lula, Garnero valeu-se da familiaridade dos tempos de ABC para se aproximar de José Dirceu, ainda poderoso Ministro da Casa Civil. A aproximação lhe rendeu prestígio e bons negócios.
Graças a ela, conseguiu levar o Instituto do Coração para Brasília, em um episódio controvertido que estourou tempos depois, com boa dose de escândalo. Aliás, até hoje respondo a um processo maluco do Mário Gorla, o sócio de Garnero no empreendimento. Esteve também por trás dos problemas do Instituto do Coração em São Paulo.
Quando os chineses começaram a desembarcar no Brasil, fui procurado por analistas da embaixada da China interessados em informações sobre o país. E me contaram que estavam conversando com um BNDES privado. Indaguei que história era essa. Era o Brasilinvest – na ocasião um mero banco desativado, localizado em uma das torres do conjunto Brasilinvest na Avenida Faria Lima. Não sabiam que Garnero já se desfizera totalmente do patrimônio representado pelas torres. E tinha um banco de fachada.
Garnero ajudou na aproximação de Dirceu com parte dos empresários norte-americanos. Na véspera do estouro do “mensalão” Dirceu já tinha uma viagem agendada para Nova York organizada por ele.
Sem conseguir se enganchar no governo Lula, Garnero acabou se dedicando ao setor imobiliário. Os filhos não seguiram sua carreira, internacionalmente brilhante, apesar dos tropeços. Ficaram mais conhecidos pelas conquistas e pela vida vazia.
Já o neto consegue seu segundo instante de celebridade. O primeiro foi em um vídeo polêmico, simulando um agarra com o ex-jogador Ronaldo.
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PS.:No comentário abaixo, na TV Gazeta, o jornalista Bob Fernandes identifica o jovem que chamou Chico Buarque de “um merda” como sendo Guilherme Junqueira Motta, herdeiro de usineiro que afirma trabalhar na Usina Guaira, em Guaíra, região de Barretos, no interior de São Paulo.