Esquema de propina envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é escondido em nota de rodapé na Folha de S.Paulo. O que o jornal faria se o citado por um delator fosse o ex-presidente Lula ou Dilma Rousseff?
Nesta quarta-feira, às vésperas do fim do ano, a Folha de S. Paulo trouxe um furo de reportagem do jornalista Rubens Valente. Segundo um dos delatores da Operação Lava Jato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do principal partido de oposição e candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, recebeu uma propina de R$ 300 mil da empreiteira UTC (saiba mais).
Em condições naturais de temperatura e pressão, a notícia teria sido estampada na manchete principal do maior jornal do Brasil. No entanto, mereceu apenas uma nota de rodapé na primeira página da publicação, confirmando a tese do colunista André Singer de que a mídia faz de tudo para abafar a corrupção tucana.
“Enquanto o PT aparece, diuturnamente, como o mais corrupto da história nacional, o PSDB, quando apanhado, merece manchetes, chamadas e registros relativamente discretos. O primeiro transita na área do megaescândalo, ao passo que o segundo ocupa a dimensão da notícia comum”, disse Singer. “A salvaguarda do PSDB pelos meios de comunicação reforça a tese de que o objetivo é destruir a real opção popular e não regenerar a República.”
O caso de Aécio mereceria ainda mais destaque, quando se leva em conta o fato de que, há um ano, o senador tucano, em aliança com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vem liderando uma cruzada moralista para derrubar a presidente Dilma Rousseff, num terceiro turno sem fim que tem causado sérios danos à economia. No entanto, como disse Singer, a denúncia contra o tucano “ocupa a dimensão da notícia comum”.
Vale-tudo contra Lula
A Folha, naturalmente, poderá argumentar que, no caso de Aécio, a denúncia de um delator carece de comprovação. Mas não foi esse o comportamento do jornal quando se tratava do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia 16 de outubro deste ano, a Folha cravou em sua manchete a seguinte notícia: “Delator diz ter repassado R$ 2 mi para nora de Lula”. Era mentira. A Folha havia apenas embarcado numa “barriga” (jargão jornalístico para as notícias falsas) do colunista Lauro Jardim, do Globo, o que mereceu reparos da ombudsman da publicação.
Mais recentemente, a Folha deu outras demonstrações de sua perseguição a Lula. Ao noticiar uma denúncia contra o senador Delcídio Amaral, a Folha estampou na manchete a foto do ex-presidente. Quando o pecuarista José Carlos Bumlai foi denunciado, ele também perdeu o direito ao nome e foi retratado como “amigo de Lula”.
Nas pesquisas recentes do Datafolha, Aécio e Lula têm sido pesquisados como os dois principais nomes da disputa presidencial de 2018.
informações de 247
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