O antipetismo não pode vencer o Judiciário
Nicolas Chernavsky*
Cada vez mais fica mais claro que o Poder Judiciário está se tornando a válvula de escape para setores de conservadorismo especialmente antipetistas tentarem acabar com o PT. Esta atitude do antipetismo decorre do fato de que as vias eleitorais-democráticas não fornecem perspectivas suficientemente concretas de que o PT, que já liderou o progressismo em 4 vitórias seguidas nas eleições para presidente, será derrotado nas eleições presidenciais de 2018. A existência de Lula dá aos setores mais atrasados do país a convicção de que se o PT existir, Lula provavelmente vencerá, deixando o progressismo pelo menos 20 anos ininterruptos na presidência. Quem acompanha a evolução da pirâmide social brasileira de 2003 para cá sabe que o Brasil passa por uma revolução progressista. O antipetismo não vê outra alternativa a não ser fechar o PT através do Judiciário. Mas a democracia tem outros planos.
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O Judiciário brasileiro tem inúmeros integrantes que querem que sua instituição cumpra as leis, em vez de ficar tentando destruir um partido político por razões políticas e não legais. Tendo a crer que essas pessoas, inclusive, não costumam simpatizar com o PT, apesar de algumas fazerem-no. O Judiciário não é como o Executivo e o Legislativo, os quais têm na disputa político-partidária a sua razão de ser e sua legitimidade; o Judiciário perde sua razão de ser e sua legitimidade quando toma partido na disputa político-partidária. Pra isso não se precisa de Judiciário, pois já temos os políticos para isso.
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Os juízes, desembargadores e ministros do Judiciário chegam a seus cargos pelos mais variados processos; seja por indicação política, por indicação de instituições do Estado ou por concurso público. Independente de como chegaram lá, os integrantes desse Poder da democracia brasileira estão imersos em um jogo de forças em que parecem ter que escolher entre serem petistas ou antipetistas, quando existe uma terceira opção: ser um juiz. Examinar a verdade factual, rejeitar os preconceitos e julgar à luz da lei. E ter coragem de inocentar um petista se assim lhe parecer correto.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político