Categories: Política

O preço da democracia

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Depois da indignação seletiva, em que a corrupção do PT, e apenas a do PT, ensejaram histéricos bateres de caçarolas gourmets (a corrupção de outros partidos deixaram as panelas sujas em cima da pia, aguardando a empregada limpar noutro dia), agora temos a desconfiança seletiva. A urna eletrônica antes era motivo de orgulho pros brasileiros, que inovaram nessa tecnologia. Contudo, depois que o PT venceu quatro eleições seguidas, ela passou à suspeição.

Por isso, congressistas da oposição (que garantem estar preocupados unicamente com a lisura do processo) propuseram que os votos fossem impressos e, posterior e automaticamente à conferência do eleitor, depositados numa urna pra poderem ser recontados caso algum partido (perdedor, suponho) solicite. Dada essa onda de choros e mimimis dos preteridos, sugiro que nem se faça a contagem eletrônica dos votos, passando direto à manual.

A Presidenta Dilma usou o argumento do Presidente do TSE, Dias Toffoli, na exposição de motivos do veto à proposta: o novo mecanismo custaria ao erário R$ 1,8 bilhões, dinheiro esse que, segundo a Presidenta, o Brasil não pode se dar ao luxo de gastar. Pelo menos não para as próximas eleições.

Ao argumento da Presidente da República e do TSE, parlamentares de oposição subiram à Tribuna do Congresso alegando que a democracia não tem preço. Esses parlamentares que discursaram contra o veto presidencial são os mesmos que, logo depois, subiram à mesma tribuna pra defender o financiamento privado de campanha, alegando que o estado não pode arcar com os custos das propagandas eleitorais. A isso, parlamentares governistas que corroboraram que o Brasil não pode gastar com a implantação do voto impresso, subiram à Tribuna pra defender o financiamento público de campanha. Pense nuns políticos coerentes, esses nossos.

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Em se tratando de democracia, sou um consumidor compulsório. Sou a favor de comprar todo e qualquer apetrecho que venha fortalecer nosso sistema. Se a impressão dos votos trará maior segurança às eleições, que seja implantada independente dos custos. E já no ano que vem. E que se sepultem de vez as doações privadas aos partidos e coligações. Ou alguém acha mesmo que as empresas doam por ideologia? Essas doações, geralmente, nos são cobradas em forma de obras superfaturadas, de contratos comprados, enfim, é o início da corrupção. É o barato que sai muito caro. Sem contar que o debate de ideias fica em segundo plano. Por isso defendo um financiamento público austero, que a palavra austeridade tá em voga por estes dias, de campanha. Quero uma campanha em que nos sejam apresentadas ideias e ideologias. Quero que vença aqueles candidatos que, segundo os eleitores, têm as melhores ideias e proposições e não aqueles que gastaram fortunas pra poluir a cidade com murais e cavaletes com a sua foto (sempre sorrindo) ou com carreatas de congestionamento (pagando a gasolina dos participantes).

A democracia tem seu preço. E é elevado. Mas eu prefiro a mais cara democracia ao mais barato absolutismo. E pra a aprimorarmos (o que deve ser uma constante), temos que pagar R$ 1,8 bilhões pra imprimir o voto e mais não sei quanto pra custear as campanhas (em que, infelizmente, os poluidores cavaletes, os carros de som e as bandeiras se sobressaem à divulgação de ideias).

Mas há também os outros custos não mensuráveis. Os golpistas, por exemplo, devem entender que é da democracia suportar quatro anos de um governo com o qual discordam. Ou dezesseis. Ou, Nossa Senhora do Mimimi, vinte (o PT já pré-lançou Lula como candidato). É a democracia que permite, gostem ou não, que o PT fique dezesseis o vinte anos no poder. É ela que nos premia com o Jair Bolsonaro, com o Jardel e com alguns parlamentares que empregam funcionários fantasmas.

Só a melhora da democracia nos fará melhor socialmente, repito sempre. E isso, de fato, não tem preço.

É a minha opinião. Podem imprimir pra conferir depois.

*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político

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