Samuel da Silva, Geledés
Domingo, dia 10/01/2016, por volta das 21h, estava parado sozinho na praça dos arcos da lapa, perto da Avenida do Paraguai, tentando entrar em contato por celular com um amigo que se encontrava num bloco de carnaval mais a frente. Eu estava apenas de bermuda e tênis, não usava camisa. De repente, fui abordado de maneira ríspida e agressiva por um policial militar fardado, que indagava aos berros “o que você esta fazendo aqui?!”. Em nenhum momento foi solicitado minha identificação, ele apenas tentava me pegar pelo braço e pelo pescoço, dizendo que iria me levar para a Delegacia. Em questão de instantes, surgiram agentes da “Lapa Presente” para ajudar o Policial Militar a me prender. Eu disse que iria para a delegacia, mas não junto com eles, pois era minha intenção registrar uma ocorrência de abuso de autoridade por causa da atitude arbitrária do PM e dos agentes. Nesse momento, eu fui agarrado, imobilizado, derrubado no chão e jogado dentro de uma van da “Lapa Presente”.
Na 5º DP, a minha identificação foi retida e fiquei sentado esperando o atendimento. Os agentes da “Lapa Presente” circulavam ao meu redor e me intimidavam, assim como o PM, que pegou o celular dele e passou a tirar fotos do meu rosto, foi quando falei que não tinha medo de intimidação nem ameaças, daí uma discussão se iniciou. Um Inspetor da Polícia Civil saiu da mesa em que atendia ao público e veio rispidamente em minha direção. O Inspetor junto com outros agentes da “Lapa Presente” me conduziram à porta do Delegado de plantão que perguntou aos policiais o que eu estava fazendo, os policiais responderam “Ele estava mijando no meio da multidão”, em seguida o delegado se referiu a mim e perguntou “Você estava fazendo isso?”, eu respondi que não. Então o Delegado, diante da minha resposta, ordenou que eu fosse levado para uma cela e tivesse um “tratamento especial”.
Eu fui conduzido para cela por cerca de 3(três) agentes mais o Inspetor da Polícia Civil (o mesmo que me abordou no hall e me levou a presença do Delegado). Este Inspetor no caminho para cela proferiu diversos socos na minha nuca e rosto, quando estava no chão mais chutes foram proferidos no meu rosto, as agressões duraram cerca de 2 min. Após as agressões, o inspetor voltou normalmente ao trabalho, enquanto outros agentes da “Lapa Presente” diziam que eu deveria aprender como as coisas funcionavam na prática. Eu fiquei caído no chão sem qualquer tipo de ajuda, os policiais circulavam pelo corredor normalmente, apenas se desvencilhavam de mim do mesmo que se desvencilha de um lixo jogado no chão. Dois outros agentes da “Lapa Presente” vieram falar para eu ficar quieto, assumir tudo o que os policiais falavam, pois o melhor que eu poderia fazer seria sair daquela delegacia, já que eu poderia ser jogado dentro de uma cela caso eu continuasse confrontando os fatos apontados pelos Policiais. Esses dois agentes me ajudaram a levantar e me conduziram para o atendimento (dessa vez no interior da delegacia).
Já temendo muito pela minha própria vida, eu peguei meu celular e comecei a enviar mensagens de ajuda para as pessoas que eu conheço, foi quando um agente da “Lapa Presente” falou para que eu guardasse o meu celular senão o aparelho seria apreendido pelos Inspetores. Logo depois um amigo chegou na Delegacia. O Delegado e o Inspetor que me espancou foram embora. Em seguida, um outro Inspetor da Polícia Civil sentou ao meu lado para confirmar meu endereço e telefone, então fui chamado para ser atendido onde fui obrigado a assinar um termo circunstanciado sob olhares ameaçadores do Policial Militar que me levou aquela Delegacia. Ao recusar a assinar o termo em tais condições, o Inspetor que estava me atendendo disse que eu seria preso caso não assinasse, já que os Policias tem fé pública em suas afirmativas e tudo que eles falam tem presunção de verdade.
Após sair da 5º DP, eu fui com meu amigo direto para à 15º DP. Lá outros 2 amigos me encontraram, fiz o registro de tudo o que ocorreu na 5º DP. Na segunda-feira, dia 11/01/2016, fiz exames de corpo de delito no IML, também fui no Hospital Miguel Couto para cuidar dos ferimentos.
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