Novo filme de Quentin Tarantino entrou em cartaz no Brasil nesta quinta-feira (7). Trata-se de um western poderoso, nostálgico e sangrento, como só o aclamado diretor sabe fazer. Confira 8 razões para assistir 'Os Oito Odiados'
Amauri Terto, Brasil Post
O novo filme de Tarantino, Os Oito Odiados, entra em cartaz no Brasil nesta quinta-feira (7). E trata-se de um western poderoso, nostálgico e sangrento, como só ele sabe fazer.
A trama se passa anos depois do fim da Guerra Civil Americana na região de Wyoming, no norte dos EUA, onde o inverno é rigoroso. Um caçador de recompensas leva uma refugiada para sua condenação e, ao longo do caminho, se depara com dois forasteiros: um ex-soldado negro e um sulista renegado que diz ser o novo xerife da cidade.
Impedidos de seguir viagem por conta da forte nevasca, o grupo busca refúgio no Armazém da Minnie. Lá, não encontram a proprietária e sim o enforcador Oswaldo Mobray, o vaqueiro Joe Gage e o general confederado Sanford Smithers.
Confinados no pequeno estabelcimento, os oito viajantes vão pouco a pouco percebendo que ninguém é o que parece ser. E que, talvez, ninguém chegue a tal cidade de Red Rock.
O oitavo filme de Tarantino tem qualidades de sobra para ser visto na tela grande. É cinema com marca de autor, propõe discussão para além da tela e é uma experiência com pouco mais de três horas de duração. Você já imaginou não checar o celular por todo esse tempo atualmente?
Seguindo esse enigmático 8 da produção, resumimos a este número os motivos pelos quais você deve assistir ao filme. Cuidados com os spoilers, há alguns aqui e ali. Nada muito revelador, acredite.
1. A marca de sangue do diretor
Quem acompanha a carreira de Quentin Tarantino sabe que ele não economiza nas cenas de violência em seus filmes. Em Os Oito Odiados não é diferente. O sangue está lá: jorrando de crânios explodidos e membros decepados. Se você tem estômago fraco, opte por outro filme no cinema ou saia da sala depois de uma hora do início da sessão, mais ou menos. Se você estiver ansioso para ver cenas fortes, talvez ache que elas demoram mais do que o necessário para acontecer (talvez até solte um bocejo). Essa sensação ocorre talvez porque Tarantino constrói diálogos e cenários com esmero durante longos minutos. Mas pode apostar: a violência estilizada do diretor aparece e invade a tela. Ao final da sessão, provavelmente você vai limpar as gotas de sangue da sua roupa.
2. As inúmeras reviravoltas
Os Oito Odiados é um filme de reviravoltas que vão te deixar inquieto na cadeira. E isso pode ser muito divertido. Tarantino, que assina também o roteiro da produção, toma o espectador como refém de inúmeros recursos de narrativa – hora ajudando, hora impedindo a montagem do grande quebra-cabeça que o filme se torna em seus momentos finais. Dentro do pequeno Armazém da Minnie, ocorrem flashbacks, montagens paralelas, narração em off e curiosas referências a obras anteriores, como Bastardos Inglórios e Cães de Aluguel. Tudo isso vai deixar os sentidos totalmente em alerta.
3. A onipresença do cineasta
OK, Tarantino assina a direção e o roteiro do filme. Mas não só. A certa altura, o cineasta ocupa também o posto de narrador em Os Oito Odiados, comentando as diversas reviravoltas da trama. É possível que você solte alguma gargalhada por causa de um desses comentários. É aí que mora parte da beleza da obra de Tarantino. Seus filmes são inescrupulosamente pessoais, com marcas registradas (a trilha sonora escolhida a dedo, os personagens com passado bem construído, os diálogos bem elaborados, a divisão por capítulos). E caso você se esqueça disso em algum momento, o próprio diretor faz você lembrar – com a voz dele, no caso de Os Oito Odiados.
4. A discussão sobre racismo
Assim como em seu filme anterior, Django Livre, Tarantino propõe uma pertinente discussão sobre racismo em Os Oito Odiados. A trama se passa nos EUA em reconstrução após a violenta Guerra Civil que culminou com o fim da escravidão, mas onde o racismo ainda impera. O ódio entre o norte e o sul é explosivo. Tarantino aborda essa questão com uma enxurrada de piadas e comentários racistas, feitos de forma exaustiva pelos personagens. As aberrações são jogadas aos montes no colo do espectador, que pode gargalhar até cansar, sentindo-se em seguida ridículo pelo próprio riso. Há quem não goste do método de Tarantino, mas não se pode negar que — usando desse artifício — ele propõe uma reflexão potente sobre a natureza humana e seus absurdos.
5. A mulher entre os odiados
Assassina confessa e condenada, Daisy Domergue (interpretada com excesso e brilho por Jennifer Jason Leight) é peça-chave em Os Oito Odiados. Na trama, ela está sendo levada para execução por um truculento caçador de recompensas, John Ruth (vivido por Kurt Russel). É dele que a prisioneira leva pancadas durante boa parte do filme. Tarantino constrói uma personagem pela qual o espectador nutre diversos sentimentos durante a produção. Meu Deus, como ela está sofrendo! Coitadinha. Caramba, que racista maldita! Gente, que angelical essa cena! Essas são algumas exclamações prováveis em relação à figura de Daisy.
6. A tecnologia antiga
Além do cuidado estético já conhecido de longas anteriores, Tarantino trouxe para esse western uma tecnologia diferente – e não por acaso também antiga. Ele filmou Os Oito Odiados em um formato chamado Ultra Panavision 70mm. O que isso implica no filme? Esse recurso cria a experiência de tela larga para o espectador. “Quando você está indo para uma peça, você pode olhar para o palco e você pode escolher o que você quer olhar, e é como se essa tecnologia te desse essa oportunidade”, declarou Kurt Russel. E a sensação na sala de cinema é bem essa. Dica: passeie os olhos por toda a tela nos minutos iniciais do filme; a vastidão de Wyoming sob a neve é marcante.
7. A velha guarda reunida
Tarantino tem uma coleção de atores-fetiche. E em Os Oito Odiados ele lança mão de alguns deles com muito, mas muito sucesso. Vou citar aqui Samuel L. Jackson só para exemplificar o que seria esse tipo. Samuel já trabalhou com o cineasta em Pulp Fiction, Jack Brown, Kill Bill 2 e Django Livre. Tarantino sabe que não se mexe em time que está ganhando Por isso, no novo filme escalou também Kurt Russel, Tim Roth, Michael Madson e Walton Goggins – parceiros de produções passadas. Na tela, eles dão contornos firmes a personagens com sotaques e vivências distintas, irônicas, sarcásticas e – inevitavelmente – sanguinárias.
8. O toque de Enio Morricone
A trilha sonora é geralmente um personagem à parte dos filmes de Tarantino. Em Os Oito Odiados, podemos dizer que esse personagem é tímido em alguns momentos e devastador em outros. O responsável pela trilha sonora é o mestre Ennio Morricone (jogue seu nome na enciclopédia virtual IMDB e tome um susto com a quantidade de trabalhos assinados por ele). O compositor criou a trilha antes de ver qualquer imagem do filme e o resultado é, digamos, primoroso. Em certos momentos você vai ficar na dúvida se está vendo um western ou um filme de terror. Há tensão nas cordas de Morricone e a combinação disso com sangue pode te deixar sem fôlego.
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook