Vivemos uma espécie de renascimento às avessas. Ideias malfadadas e comprovadamente ineficazes – não raras prejudicais – vêm à tona sustentadas, como não poderia deixar de ser, não por intelectuais ou líderes culturais, mas por uma elite financeira carente de educação, de cultura e de senso crítico pleno.
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
No período pós Idade Média (época tida pela História oficial como sendo de parcos, se não nulos, avanços sociais, culturais e tecnológicos – tese já muito consistentemente rebatida), a sociedade ocidental viveu o período conhecido como Renascimento. Era o resgate de um modo de vida, de um enxergar o mundo que eles julgavam melhor, a época da Idade Antiga Clássica, sobretudo do mundo helênico.
Ideais como a democracia, a filosofia, as belas artes, a estética coexistindo com a funcionalidade, foram resgatados num período em que o Velho Mundo clamava por mudanças. Por melhorias. Por avanços. Viram eles que o pragmatismo, muitas vezes, é injusto e, paradoxalmente, até pouco eficiente. Não custa lembrar: nesse contexto eventos como o Iluminismo e a Revolução Francesa aconteceram.
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Hoje, nesta aurora de um novo milênio, aqui no Brasil, pelo menos, vivemos uma espécie de renascimento às avessas. Ideias malfadadas e comprovadamente ineficazes – não raras prejudicais – vêm à tona sustentadas, como não poderia deixar de ser, não por intelectuais ou líderes culturais, mas por uma elite financeira carente de educação, de cultura e de senso crítico pleno. Às luzes querem sobrepor as trevas do obscuro. À democracia preferem o anacrônico absolutismo. Querem, ainda, fazer reviver o Despotismo Esclarecido. Não percebem, entretanto, que déspota algum conseguiu esclarecer, tampouco ter êxitos outros.
Ideias como privatizações (o que já resta comprovado que beneficia uma minoria em detrimento da coletividade), militarismo (que nos atrasou social e economicamente mais de décadas), impeachment (o que seria um retrocesso pra nossa democracia republicana) e austeridade nos gastos públicos cortando benefícios sociais (expediente usado com péssimos resultados na Grécia, por exemplo) vem à baila num momento de pleno envolvimento da população com a Política.
Esses discursos não poderiam vir em pior momento. Agora, que finalmente a população parece discernir a diferença entre política e Política; num momento de pós-eleição em que tivemos uma inédita participação e envolvimento popular; justamente agora em que parecíamos dar mostras de amadurecimento social; justamente agora, uma parcela alienada da população repete os malfadados tempos de outrora, querendo nos levar ao atraso, à Idade Média dos livros de História.
Lamentável.
*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político
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