Depois de Roger Moreira reclamar do tratamento que sua banda recebeu ao abrir o show dos Rolling Stones, o professor universitário e ex-integrante da banda Os Replicantes, Carlos Gerbase, rebateu as críticas do músico e relembrou o dia em que foram “tratados como lixo” quando abriram um show do Ultraje a Rigor. Relato de Gerbase já alcançou mais de 50 mil curtidas no Facebook
O professor universitário e ex-integrante da banda Os Replicantes, Carlos Gerbase, postou em sua conta no Facebook uma resposta a Roger Moreira, vocalista do Ultraje a Rigor. Seu relato já tem mais de 50 mil curtidas.
No último sábado, após sua banda abrir o primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, no Rio de Janeiro, Roger usou o Twitter para reclamar ter sido “tratado como lixo” pelo gerente de palco dos ingleses (relembre aqui).
Na rede social, Gerbase relatou um incidente que teve com o Ultraje a Rigor em 1986, quando o grupo se apresentou em Porto Alegre e teve a abertura feita pelos Replicantes.
Convidada para abrir o show do Ultraje, a banda (Replicantes) tinha combinado de usar os amplificadores e a bateria dos paulistanos, já que o instrumento de Gerbase estava danificado. Entretanto, de última hora, os integrantes liderados por Roger não deixaram que o gaúcho usasse a bateria com medo de que ele a quebrasse também.
O Replicantes e o Ultraje a Rigor foram duas bandas importantes do rock nacional nos anos 1980. O grupo gaúcho segue na ativa até hoje, com uma nova formação, enquanto a banda de Roger Moreira é fixa no “The Noite”, do SBT.
Confira o texto de Carlos Gerbase na íntegra:
“A GENTE SOMOS LIXO?
O Roger, do Ultraje a Rigor, está reclamando que a sua banda foi maltratada pela equipe dos Rolling Stones, para quem abriram o show no Rio de Janeiro. Ele escreveu em seu Twitter: ‘Nós somos lixo para eles’. Não sei em que condições contratuais o Ultraje fez seu show, não sei se receberam um bom cachê e não posso opinar sobre o tratamento que a banda recebeu, já que eu não estava lá. Mas posso contar uma pequena história sobre a abertura que a banda Os Replicantes fez para o primeiro show do Ultraje a Rigor em Porto Alegre, lá pelos idos de 1986.
Nós (Os Replicantes de então: Wander Wildner, Heron Heinz, Cláudio Heinz e Carlos Gerbase) éramos amigos dos produtores que trariam o Ultraje para tocar no Auditório Araújo Vianna e fomos convidados para fazer a abertura, sem receber cachê, simplesmente pela oportunidade de tocar num lugar bacana, para um grande público (Inútil, do Ultraje, estava rodando bastante nas rádios, e isso garantia o sucesso do espetáculo). Topamos. Na hora de combinar como seria a infra do palco, a produção disse que poderíamos usar os mesmos amplificadores e a mesma bateria do Ultraje.
Minha bateria, na época, era uma Pinguim pequena e de segunda mão, de quem guardo excelentes recordações, mas que não tinha condições de fazer um show profissional para 5 mil pessoas: pedal de bumbo quase estragado, peles quase furando, estantes de pratos quase caindo e pratos (nacionais) já rachados. Como os pratos e a caixa são equipamentos muito pessoais e sujeitos a avarias, combinamos que, apesar de tudo, eu usaria os meus. Punk rock não tem frescura.
De tarde, fomos passar o som. Tudo normal. Sentei na bateria colocada num praticável e comecei a arrumar meus pratos e a caixa, quando alguém me disse que eu não poderia usar aquela bateria, pois o Ultraje não queria emprestar. Tinham ficado sabendo que eu tinha a mania de detonar e derrubar o instrumento no final do show. Mito. A minha pobre bateria é que caía sozinha às vezes. Expliquei para a produção e para os caras do Ultraje que eu tomaria o máximo cuidado, mas não houve acordo.
Faltava menos de uma hora para o show. Não dava tempo para alugar outra bateria. A solução foi pegar meu carro e trazer minha Pinguim velha de guerra, que foi montada na frente do praticável da bateria do Ultraje. Nem o praticável eu pude usar! Lembro do contraste entre a Pinguinzinha, no chão, e aquela bateria enorme e importada sobre o seu praticável. Que merda! Eu me sentia como lixo… Que bom!
Entramos no palco e quebramos tudo (esteticamente falando). Foi um dos shows mais bacanas da história da banda, com direito a muito pogo no fosso do Araújo (que saudade do fosso!). E a Pinguinzinha ali, com seus pratos rachados, suas estantes periclitantes, seu pedal de bumbo arrumado com arame, resistindo bravamente. Tocamos uns quarenta minutos, conforme o combinado, e saímos do palco suados, felizes e com a sensação de termos feito história. Recolhi a Pinguim, botei no porta-malas do meu Chevette (sim, ela cabia inteira no porta-malas) e voltei pra ver o show do Ultraje.
Fazendo sua primeira piada (ou ‘homenagem’) da noite, os quatro músicos do Ultraje entraram no palco pilchados, isto é, de bombacha e com uns lenços ridículos na cintura. Levaram uma das maiores vaias da história do Araújo. O rock é, antes de qualquer coisa, uma música que derruba convenções e estimula a liberdade, e os caras vêm fantasiados de ‘gaúchos’. É dose. Comecei a ver o show, aguentei uns vinte minutos e, percebendo o populismo da banda (o tempo todo querendo ‘agradar’ ao público) fui embora.
Essa é a história. Pena que nunca abrimos para os Rolling Stones. Pena que nunca toquei na Gretsch do Charlie Watts. Mas ainda bem que nunca sentei na bateria do Ultraje a Rigor. Ela não merecia a minha bunda.”
A GENTE SOMOS LIXO?O Roger, do Ultraje a Rigor, está reclamando que a sua banda foi maltratada pela equipe dos Rolling…
Publicado por Carlos Gerbase em Segunda, 22 de fevereiro de 2016
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