Márcio Carlomagno*, Pragmatismo Político
Vem chegando as eleições municipais e o interesse pelo tema aumenta. A dinâmica das eleições municipais é muito própria e diferente da eleição para outros cargos, como alguns excelentes estudos já demonstraram (por exemplo, dos professores Bruno Speck e Wagner Mancuso).
Um estudo de minha autoria, publicado recentemente, revela alguns interessantes aspectos sobre as eleições de 2012. Uma questão em específico chama a atenção: aquilo que poderíamos chamar, informalmente, de “política da gasolina”.
O gráfico abaixo talvez pareça difícil de entender, mas vale a pena. Ele mostra, em percentuais, em que os candidatos gastaram seu dinheiro de campanha em 2012. O gráfico é referente a 5 mil candidatos a prefeito. Fazem parte da análise todos municípios dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná (no artigo, há os dados também para candidatos a vereador). Os dados estão divididos por tamanho de município. Atenção ao item “transporte”.
Pode parecer incoerente, não é mesmo? Os municípios com menor número de habitantes, é onde mais se gasta dinheiro com “transporte”! Pela lógica, um município com 5 mil ou 10 mil eleitores é pequeno em tamanho territorial e, portanto, não justificaria tal gasto (apesar de eventuais exceções que possam existir, municípios grandes e com pequena população, mas que são exceção).
No caso dos prefeitos, “transporte” é o segundo maior gasto até as cidades de porte médio (50 mil eleitores). No caso dos vereadores, a questão é ainda mais gritante. Em valores absolutos é disparado o maior gasto nestas mesmas cidades (e segundo maior em termos percentuais).
O que explicaria esta aparente incoerência lógica, de que em municípios pequenos em extensão territorial, candidatos aloquem a parte majoritária de seus recursos de campanha para o item “transporte”, basicamente gasolina?
Não é exagero a partir de tais dados levantar alguns questionamentos sobre o histórico processo de compra de votos no Brasil. Especialmente as eleições municipais são um terreno propenso a este fenômeno. Uma das práticas de “compra de voto” mais comuns no Brasil tem sido a troca por gasolina, algo vastamente já registrado em denúncias nos meios de comunicação.
Sem, evidentemente, poder fazer ilações de culpa, apenas porque os candidatos gastaram muito dinheiro em gasolina, mas isto é um indício. Tais dados estão em consonância com este tipo de processo e de prática. Nestes municípios, a gasolina parece ser a estratégia eleitoral dos candidatos para atingir o seu eleitor.
Nas eleições deste ano, ao que tudo indica, os candidatos terão maior dificuldade para arrecadar verbas para suas campanhas (por causa do fim do financiamento empresarial). Com menos dinheiro disponível, o incentivo tende a ser justamente alocar seus recursos nas estratégias mais “seguras” de retorno, tal como comprar votos. Afinal, comprar votos é mais barato do que tentar convencer o eleitor por meios lícitos. O acompanhamento das eleições (e deste tipo de prática) por parte da imprensa, dos meios alternativos de comunicação e dos próprios cidadãos será fundamental, mais do que nunca, para ajudar a aprimorar nossa democracia. Sobretudo em um momento tão importante, quando passa a vigorar o fim do financiamento empresarial de campanhas, que tem o real potencial de alterar alguma coisa na política brasileira.
*Márcio Carlomagno é cientista político, mestre e doutorando pela Universidade Federal do Paraná, trabalhou com planejamento eleitoral e colaborou para Pragmatismo Político.
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