Redação Pragmatismo
Ditadura Militar 26/Fev/2016 às 12:06 COMENTÁRIOS
Ditadura Militar

Como a ditadura militar agia nas favelas do Rio de Janeiro

Publicado em 26 Fev, 2016 às 12h06

Comissão da Verdade aponta como a repressão atuou nas favelas do Rio de Janeiro durante a ditadura militar. Relatório também detalha os abusos cometidos na época

ditadura militar agia nas favelas do Rio de Janeiro
Remoções foram forma recorrente de violação de direitos

“Nos últimos três anos, a UPMMR [União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha] apresentou diversas queixas e denúncias sobre violências e arbitrariedades cometidas por policiais na Rocinha, tais como: cobertura sistemática dada a grileiros da favela, que procuravam se apossar das terras, expulsando famílias que lá viviam; invasão de barracos; arrombamento de residências; espancamentos de moradores e prisões ilegais; diversos tipos de extorsões cometidas contra trabalhadores ou marginais.

Foram abertas algumas sindicâncias, que não deram em nada, devido à má vontade das pessoas que as dirigiam, e às pressões e intimidações feitas contra as testemunhas”.

“Dentro dessa comunidade aqui, os caras quando entravam aqui entravam com olhar assim de: ‘todo mundo é bandido’. Aquelas rondas, aquelas blitz dentro do morro, eles entravam com suporte militar, entravam e desciam com a gente amarrado tipo arrastão de peixe, que você joga aquele espinhal. Todo mundo amarrado na mesma corda, descendo o morro”.

As situações descritas nos dois trechos acima bem que poderiam ter acontecido na semana passada, mas se referem a episódios que ocorreram durante a ditadura militar. O primeiro é um panfleto de 1981 da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), localizado no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). O segundo é parte do depoimento de José Fernandes, o Xavante, liderança da Rocinha, prestado à Comissão da Verdade do Rio.

Os dois fragmentos fazem parte do capítulo A Ditadura nas Favelas Cariocas do Relatório Final da Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio)

Escrito em colaboração com os pesquisadores Marco Pestana e Juliana Oakim, a análise mostra que as remoções foram uma forma recorrente de violação de direitos. Somente entre 1964 e 1973, atingiram mais de 100.000 pessoas no Rio de Janeiro.

Vigilância

Outro aspecto levantado é que o regime se utilizava de mentiras – o medo de que moradores de favelas poderiam atuar como base para uma revolução comunista – para legitimar suas ações nestes locais, para além do auxílio às remoções: “consolidou-se, assim, uma presença não apenas ostensiva e repressiva, como também voltada para o desenvolvimento de uma ampla vigilância e de exaustivas investigações sobre os indivíduos e grupos politicamente atuantes nas favelas cariocas durante a ditadura”, aponta o relatório.

O Relatório Final da Comissão, instalada com o objetivo de esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988, apresenta o resultado de dois anos e oito meses de trabalho. Engloba, entre outros aspectos, pesquisas a respeito do empresariado e da violência aos trabalhadores rurais e urbanos, aos militares perseguidos, aos moradores de favela, à população negra, às mulheres e aos setores LGBT.

Leia também:
Favelas repudiam intervenção no Rio de Janeiro decretada por Temer
Nas favelas, intervenção militar espalha medo de violações e direitos
As diferenças entre o PCC e o CV e a ofensiva dos paulistas no Rio de Janeiro

Renata Sequeira, Brasil de Fato

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS