Após colocar dedo na ferida do racismo, Beyoncé despertou a ira dos conservadores e foi desencadeada uma campanha de boicote à artista. Donald Trump, Mike Huckabee e Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, são alguns dos nomes que já se posicionaram contra a cantora
A cantora Beyoncé apresentou ao mundo a música Formation durante o Super Bowl — evento esportivo de maior audiência nos EUA.
Embora tenha sido apresentada em um evento de esporte e entretenimento, Formation (clipe abaixo) não foi só sobre diversão. Na realidade, a música é um tributo ao movimento #BlackLivesMatter e uma celebração à negritude.
Com um esquadrão de dançarinas negras vestidas como militantes da organização revolucionária Panteras Negras, Beyoncé fez uma apresentação incisiva.
O clipe da música é cheio de referências à tensão racial nos Estados Unidos.
Beyoncé aparece sobre um carro de polícia em New Orleans em meio a uma enchente — em uma possível referência ao descaso com as vítimas do furacão Katrina, que atingiu a região há 10 anos.
Uma criança negra de capuz preto dança em frente a uma formação de policiais — em alusão ao caso Michael Brown, adolescente morto pela polícia em Ferguson, no Missouri.
O clipe retrata ainda um muro com a mensagem: “Stop Shooting US”. A ambiguidade presente nos dizeres, que podem significar tanto “Parem de atirar em nós” como “Pare de atirar, Estados Unidos”, é poderosa.
“Boicote”
Beyoncé despertou a ira dos conservadores e foi desencadeada uma campanha de boicote à artista. Até o ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, se manifestou contra o discurso de empoderamento negro da cantora.
Mike Huckabee, ex-governador de direita do estado do Arkansas, disse no Daily Show que a cantora foi “vulgar” e “grosseira”, além de sugerir que ela estimula garotinhas jovens a serem strippers:
“Você conhece algum pai ou mãe que tem uma filha e diz a ela, ‘querida, se você tirar notas realmente boas, um dia, quando você tiver 12 ou 13 anos, nós te daremos seu próprio pole de stripper?”
O congressista republicano Peter T. King comentou no Facebook que “Beyoncé pode ser uma entertainer talentosa, mas ninguém deveria se importar com o que ela pensa sobre qualquer assunto sério confrontando nossa nação”.
Donald Trump, pré-candidato republicano à presidência dos EUA, avaliou a apresentação como “ridícula” e “inapropriada”.
“Quando Beyoncé estava ’empurrando’ seus quadris para frente de modo sugestivo, se outra pessoa tivesse feito isso, teria sido um escândalo nacional”, disse.
Segundo a organização Mapping Police Violence, a polícia dos EUA matou uma pessoa negra a cada 26 horas em 2015 – foram pelo menos 336 vidas terminadas.
A MPV diz também que 30% das vítimas negras em 2015 estavam desarmadas, ao contrário dos 19% representantes das vítimas brancas.
Negros têm três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos.
Vídeo de Formation:
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