Redação Pragmatismo
Geral 26/Fev/2016 às 14:27 COMENTÁRIOS
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Dana Scully, uma inspiração às mulheres pragmáticas

Publicado em 26 Fev, 2016 às 14h27

Uma ode a Dana Scully: uma das personagens fictícias mais intransigentes, destemidas e realistas da história da televisão; uma inspiração às mulheres pragmáticas

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Os fãs da ficção científica e as pessoas que acreditam que uma nave espacial caiu de fato em Roswell, no Novo México, têm muito o que comemorar com o retorno de Arquivo X esta semana: uma atualização longamente aguardada do status do relacionamento entre os amantes malfados Mulder e Scully. Observações profundas narradas na voz de David Duchovny, agora áspera e soando sábia. ETs.

Mas, para mulheres que cresceram lendo e assistindo a ficção científica, procurando em vão ver versões fiéis delas próprias representadas nos livros e programas fantásticos que elas amavam, a parte mais instigante do retorno do seriado é a volta de Dana Scully, uma das personagens fictícias mais intransigentes, destemidas e realistas da história da televisão.

Tradicionalmente, os detetives da ficção são homens, a começar pelo investigador popular e musculoso idealizado pelo igualmente atlético sir Arthur Conan Doyle: Sherlock Holmes.

Diferentemente da versão socialmente desajeitada mas logicamente brilhante interpretada por Benedict Cumberbatch, o Sherlock original curtia esportes; sua habilidade como boxeador sem luvas estava à altura de sua inteligência ímpar.

Não surpreende que haja clubes inteiros compostos de advogados e críticos literários, todos homens, dedicados a festejar Sherlock Holmes e suas curiosidades; Holmes é uma figura que inspira outros homens a querer seguir seu exemplo, alguém que era igualmente hábil em resolver enigmas e cortejar mulheres.

Nas narrativas popularizadas desde então sobre Holmes e outros investigadores particulares fictícios – Dick Tracy, Max Payne –, as mulheres raramente fazem mais do que ser donzelas que precisam ser socorridas, ou, no mínimo, figuras que contrariam a lógica e criam obstáculos ao raciocínio livre de emoção empregado pelo personagem central, masculino, aquele que decifra os enigmas e resolve os problemas.

Algumas versões mais modernas do cânone de Sherlock Holmes procuram corrigir esse desequilíbrio: os filmes sobre Sherlock estrelados por Robert Downey Jr. destacam a personagem Irene Adler, que é mostrada como companheira de aventuras de Sherlock, e não apenas como seu par romântico, como ela aparece na história de Conan Doyle.

E não faltam outras personagens femininas hoje que são detetives hábeis, incluindo Lisbeth Salander, Sarah Linden e, mais recentemente, Jessica Jones.

Mas quando Arquivo X primeiro foi ao ar, em 1993, existiam poucas mulheres sérias ou memoráveis que combatiam o crime na literatura e nas telas.

É verdade que Law & Order estava apenas começando e que investigadoras sexy como Carmen Sandiego e as Panteras já eram muito conhecidas, elogiadas por sua beleza e poder de sedução.

Ainda em 1965 chegou a ser produzido um seriado inteiro de TV dedicado a uma detetive mulher. Mas Honey West foi cancelado depois de apenas uma temporada, apesar de ter valido um Globo de Ouro à sua atriz principal.

Assim, quando Dana Scully foi designada agente especial, com a intenção de que jogasse por terra as hipóteses extraterrestres do obsessivo Fox Mulder, ela rapidamente tornou-se uma das primeiras detetives mulheres a ser caracterizada por suas vitórias no trabalho e seu pragmatismo intenso.

Em outras palavras, Scully ficou conhecida por sua astúcia e seu tino, não por seu sex appeal. Enquanto isso, Mulder assumia o papel intuitovo e caprichoso tradicionalmente delegado às mulheres, virando do avesso as normas habituais de gênero.

Pelo fato de Mulder e Scully representarem dois impulsos opostos que normalmente convivem dentro da maioria das pessoas, é apenas natural que os fãs os adorem tanto. Juntando a atitude esperançosa e sonhadora de Mulder e o ceticismo inteligente de Scully, forma-se uma psiquê humana completa.

Com Sherlock, por outro lado, esses atributos existiam constantemente em igual medida, fazendo do personagem uma espécie de ideal sobre-humano. Rebelde e intuitivo, didático e prático, ele era capaz de propor soluções criativas e, ao mesmo tempo, controlar todos os detalhes e as minúcias. Esse conjunto quase impecável de atributos pode explicar a fidelidade absoluta dos fãs de Sherlock Holmes – se bem que a falta de imperfeições do detetive provavelmente não seria aprovada pelos críticos ou espectadores de hoje.

Em vez disso, os dons das duplas de combatentes do crime geralmente são mais bem divididas do que era o caso com Sherlock e seu fiel escudeiro Watson, e o caso de Scully e Mulder não é exceção. Enquanto Mulder propõe que se mergulhe mais a fundo em pistas improváveis, Scully conserva a operação radicada na realidade.

Era raramente contribui algum toque de humor ao seriado, já que as falas mais absurdas geralmente são de seu parceiro, que às vezes solta pérolas dignas de serem impressas sobre xícaras de café. O fato de as frases espirituosas ficarem por conta dele, enquanto o conteúdo substancial é dado por Scully, é revolucionário.

Por tudo isso, seja bem-vinda de volta, Dana Scully. Que você mantenha os pés firmemente plantados no chão sempre e sua visão continue calma e comedida.

Maddie Crum, The Huffington

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