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Ex-pantera negra explica como se manteve vivo durante 43 anos na solitária

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Preso em uma solitária por 43 anos, ex-Pantera Negra Albert Woodfox foi libertado no dia do seu aniversário de 69 anos. Em primeira entrevista após deixar a prisão, ativista do movimento negro explica como manteve sua sanidade mental durante todo esse tempo de confinamento

O ex-Pantera Negra Albert Woodfox afirmou nesta segunda-feira (22/02) que, durante o tempo em que permaneceu preso, no Estado da Louisiana, nos EUA, a leitura era um modo de “permanecer conectado com o mundo exterior” e essa conexão era única forma de não perder sanidade. Woodfox, que ficou preso por 43 anos em regime solitária, fez a declaração à emissora norte-americana Democracy Now!, na primeira entrevista que deu a um canal de televisão ou rádio após sair da prisão.

[Ler] era uma das ferramentas que nós usávamos para permanecer focados e conectados com o mundo exterior”, disse Woodfox, ao ser perguntado se ler era permitido durante a detenção. Ele especificou que costumava ler “livros de história e sobre Malcolm X”, além de obras de Martin Luther King, Frantz Fanon e James Baldwin.

Woodfox foi libertado na última sexta-feira (19/02), dia em que completou 69 anos. Ele, a pessoa que passou mais tempo presa em uma solitária na história dos Estados Unidos, foi o último dos chamados “três de Angola” — em referência ao nome do estabelecimento prisional onde estava — a ser libertado. Woodfox integrava o grupo dos Panteras Negras, que militava por autodefesa dos negros contra o racismo e a violência policial.

Perguntado sobre o papel de Burl Cain, então diretor da penitenciária, e de Buddy Caldwell, então procurador-geral da Louisiana no caso, Woodfox afirmou que eles “desrespeitaram totalmente a Constituição, a lei, o processo legal e a falta de evidência”. “Eles apenas decidiram que éramos culpados e que fariam tudo que pudessem para nos deixar presos até morrermos”, afirmou.

O ativista destacou que foi visitar as lápides da mãe e da irmã, primeiro local aonde se dirigiu ao sair da prisão, por sentir um “vazio” ao não ter podido se despedir delas. Woodfox disse que na ocasião das duas mortes requereu uma ida ao funeral, mas em ambos os casos a Justiça negou.

A Democracy Now! entrevistou também Robert King, um dos “três de Angola”, que saiu da prisão em 2001 e passou a militar pela libertação dos companheiros. O terceiro ex-Pantera Negra, Herman Wallace, morreu de câncer em 2013, poucos dias após ter sido libertado.

Em 1972, eu, Herman Wallace e Robert King sabíamos que, para termos alguma chance de manter nossa sanidade e não permitir que a prisão nos destruísse, teríamos que manter nosso foco na sociedade”, disse Woodfox. O ex-Pantera Negra disse ainda que as visitas eram permitidas duas vezes por mês, mas “por conta da longa distância e da situação econômica”, os familiares não conseguiam vê-lo o quanto desejavam e geralmente o visitavam uma vez por mês.

Entenda o caso

Meses após terem sido detidos por assalto à mão armada em 1971, Woodfox e Wallace foram acusados, julgados e condenados pelo homicídio do guarda prisional Brent Miller e enviados para a solitária. King, por sua vez, foi acusado de estar envolvido na morte do guarda, mas não foi julgado; foi condenado pela morte de outro detento. Eles sempre negaram envolvimento nos crimes e afirmaram durante todo o tempo que foram colocados na solitária por lutarem por melhores condições de vida na prisão.

O programa na Democracy Now! mostrou o trecho de um documentário que mostra Teenie Verret, viúva do guarda Brent Miller, afirmando que acredita na inocência dos homens. “Se eles não fizeram isso, e acredito que não fizeram, eles estão vivendo em um pesadelo há 36 anos”, disse ela, em uma fala gravada em 2010.

Opera Mundi

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