Categories: Eleições 2018

Vamos resolver isso nas urnas, em 2018?

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Dirigida ao conservadorismo, essa pergunta significa: “democracia se resolve nas urnas, não tentando tirar os(as) candidatos(as) que vocês não gostam no tapetão, né?”. Dirigida ao progressismo, significa: “se o conservadorismo tirar Lula da disputa de 2018 no tapetão, a gente vai dar uma extraordinária vitória eleitoral a quem quer que seja o(a) candidato(a) do progressismo”.

Nicolas Chernavsky*

Um dos fundamentos da democracia, junto com a contagem de um voto por pessoa, decisões por maioria e o livre debate, é que haja liberdade para pessoas se candidatarem. O conservadorismo brasileiro está tentando impedir através do Judiciário que Lula se candidate a presidente em 2018, sendo que se essa tentativa de barrar Lula de concorrer tiver sucesso, a qualidade da democracia brasileira seria fortemente reduzida. Entretanto, mesmo nesse caso, a população brasileira ainda teria instrumentos democráticos para levar o progressismo à vitória. Isso porque se ficar suficientemente claro que o conservadorismo cerceou as regras democráticas por um lado, o progressismo pode por outro lado reagir e despejar uma quantidade massiva de votos em seu(sua) candidato(a) a presidente(a) em 2018, que será quase certamente apoiado(a) por Lula.

Então, assim como é muito importante a movimentação institucional e popular para manter o máximo de regras democráticas em vigor e a possibilidade de candidatura de Lula, também é importante que, caso o conservadorismo consiga tirar Lula da disputa através do Judiciário, o progressismo faça o máximo possível para que a população perceba esse cerceamento da democracia, e possa demonstrar nas urnas ao conservadorismo que a democracia veio para ficar no Brasil e no mundo, e que qualquer tentativa de reduzir a qualidade da democracia brasileira – como tirar Lula da disputa no tapetão – é contraproducente, pois gerará talvez a maior vitória eleitoral progressista que o Brasil já viu.

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A democracia é um constante processo de aperfeiçoamento. Países considerados democráticos há muitas e muitas décadas não o seriam hoje em dia se tivessem mantido suas regras “democráticas” de antigamente. Por exemplo, na França as mulheres não votavam até 1945. Nos EUA, os descendentes de pessoas escravizadas tinham muito pouco direito de voto até os anos 1960. Assim, pelos padrões atuais de democracia, o sistema democrático nesses países, e em qualquer país do mundo, é muito recente. No Brasil, a democracia sem interrupções data dos anos 1980, assim como na Espanha, para citar outro exemplo, data do fim dos anos 70. Enfim, a democracia é um processo em construção no mundo, e não é diferente no Brasil. Pelos padrões mundiais atuais, o Brasil é uma democracia, mas se atitudes antidemocráticas como tirar Lula de 2018 no tapetão tiverem sucesso, a qualidade dessa democracia pode cair tanto a ponto de que no futuro nem sejamos considerados uma democracia, perdendo assim grande parte da capacidade de resistir a eventuais autoritarismos externos. Por isso, é importante estar atento aos movimentos conservadores contra a possibilidade de candidatura de Lula, os quais são uma ameaça à democracia, assim como ocorreria se Aécio Neves, Marina Silva ou Jean Wyllys, por exemplo, tivessem sua possibilidade de candidatar-se a presidente(a) ameaçada com acusações sem provas.

A possibilidade de Lula ser tirado das eleições de 2018 pelo Judiciário é real por uma série de razões, mas a principal delas é que a cultura democrática ainda não é tão forte no Brasil, ou seja, ainda há uma porcentagem muito significativa de pessoas que torce para que, independentemente de haver provas de crimes ou irregularidades, os(as) candidatos(as) que não sejam de sua preferência sejam de alguma forma impedidos de disputar nas urnas. Assim, agora que um fortíssimo potencial candidato para 2018 é alvo de uma campanha óbvia para tirá-lo da disputa eleitoral democrática, é hora de perguntar, pra todo mundo, progressista ou conservador: vamos resolver isso nas urnas, em 2018?

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

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