Wallison Ulisses Silva dos Santos*, Pragmatismo Político
O ano de 2013 foi sem dúvida uma data marcante para a história brasileira. As manifestações ocorridas naquele ano indicavam que a população havia se interessado pela política e que estava disposta a lutar para garantir seus direitos. Os debates nas redes sociais não eram mais sobre futebol ou novela, mas sobre política e economia.
Muitos professores e defensores da importância da politização da sociedade pareciam comemorar o que muitos chamavam de “Primavera Brasileira” ou como os manifestantes diziam “o gigante acordou”. Os críticos diziam, porém que as manifestações embora desejáveis não tinham um foco e a maioria dos jovens não sabiam o motivo de estarem nas ruas.
Infelizmente os críticos estavam corretos e a “primavera brasileira” foi atípica e não produziu flores. Os jovens mostraram não ter folego e nem senso crítico suficiente para lutarem por pautas importantes. O que parecia uma primavera com o tempo mostrou ser um gelado inverno. Com o passar dos meses muitos jovens passaram a emitir comentários reacionários e passamos a assistir o aumento do racismo, homofobia, xenofobia e outros tipos de preconceitos indesejáveis.
O que teria feito uma esperança de politização da sociedade transformar-se em uma volta aos conceitos medievais? O que foi esquecido é que não é possível politizar uma população sem uma educação de qualidade e muito menos em um curto intervalo de tempo. A politização depende de um mínimo de conhecimento e de um constante exercício de debate. Em relação ao primeiro ponto nota-se que é comum matérias de jornais e debates em redes sociais onde uma parte ou ambas as partes envolvidas discutem temas que não sabem o que significam. Como exemplo pode-se citar os conceitos de esquerda e direita, bolivarianismo, capitalismo e socialismo, bolsa família e ditadura militar. A questão central não é o fato do indivíduo ser a favor ou contra uma posição, mas este tomar uma posição sem saber o que defende e o que critica.
Para entender o segundo ponto é necessário fazer uma curta análise histórica.
Durante a ditadura militar as disciplinas de humanas e sociais foram desvalorizadas pelo governo e discutir política foi transformado em algo ruim e aqueles que insistiam em fazer isto eram classificados como baderneiros e incitadores da desordem do país. Com o fim da ditadura, a ferida continuou aberta e os brasileiros em sua maioria continuaram negando-se a discutir política, desligavam a televisão no horário político, vendiam o voto como se isso não fizesse a mínima diferença e classificavam como baderneiro qualquer estudante que realiza-se uma manifestação de rua.
Sem um conhecimento básico sobre política, história, economia, filosofia ou sociologia e sem o costume do exercício da cidadania uma parcela da sociedade despertou para as questões políticas em 2013, mas sem os dois pilares necessários, estes jovens passaram rapidamente a ser uma massa de manobra e assim como a população da França durante a revolução francesa, mesmo tendo boas intenções, tornaram-se um instrumento para a luta de interesses de uma pequena parcela da sociedade.
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Alguém poderia questionar baseado em que fatos pode-se afirmar que a maioria dos brasileiros não possuem maturidade e nem conhecimentos básicos para exercerem de forma saudável a cidadania e o debate político. Basta um breve exercício de leitura dos comentários nas redes sociais ou em sites de notícias, pois um assunto sério e importante rapidamente transforma-se em uma briga em tons imaturos. Os fatos históricos e os indicadores são colocados de lado e as ofensas pessoais e palavras agressivas começam a dominar a discussão.
Quando se afirma que a população brasileira não é politizada, realiza-se uma crítica não a uma classe social, mas a toda a sociedade, pois a elite brasileira que deveria ter uma formação política “refinada” parece dominar qualquer assunto, menos a política. A democracia exige a participação de todos e um constante exercício de cidadania, mas o caminho passa por uma educação melhor, uma maior valorização das ciências humanas e sociais e uma maturidade para debater temas e opiniões de forma respeitosa, sem ofender aquele que tem uma opinião diferente. Talvez com um pouco de luz e água faça com que um dia as flores comecem a surgir e finalmente poderemos ver a primavera política em nosso país.
*Wallison Ulisses Silva dos Santos é economista e mestre em economia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professor de economia no Instituto Cuiabano de Educação (ICE) e colaborou para Pragmatismo Político
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