Documentário sobre Cuba revela como é viver sob o bloqueio econômico
Documentário mostra vida sob bloqueio em Cuba e expectativa por novos laços com os EUA. Lançado na ocasião da visita de Obama, filme de brasileira e argentino dá espaço para cubanos se contarem e questiona visão hegemônica sobre o bloqueio
A visita oficial a Cuba do presidente norte-americano, Barack Obama, esteve entre os assuntos mais comentados do mundo nos últimos dias. Lançado na internet neste sábado (19/03), véspera do desembarque de Obama na ilha, o documentário de curta-metragem “Cuba | paredão & depois” toca em uma das principais questões vividas pelo país há mais de 50 anos: o bloqueio econômico imposto pelos EUA.
“Existem informações da América Latina que não chegam ao Brasil e a mídia tem uma visão [sobre o bloqueio] diferente do que a gente acredita”, explica a Opera Mundi o jornalista argentino Nacho Lemus sobre a motivação de fazer o filme. Ele e a brasileira Julia Nassif realizaram o documentário sozinhos, incluindo o desembolso para financiar toda a produção.
Lemus e Nassif visitaram quatro cidades do país — Havana, Trinidad, Santa Clara e Santiago de Cuba — para realizar o documentário. Filmada com uma câmera na mão no fim do ano passado, já em meio ao processo de reaproximação diplomática e econômica entre a ilha e os EUA, a produção dá espaço para quatro cubanos falarem de suas impressões e histórias sobre o bloqueio e também sobre a revolução comandada por Fidel Castro em 1959.
Montado em seu cavalo, o camponês Yordán Lorenzo conta que na época de seus avós, antes da revolução, havia um toque de recolher no campo. Às 21h todos precisavam estar dentro de casa. Com a ascensão de Fidel, a redistribuição de terras foi uma das medidas do governo. “Antigamente não se podia andar cultivando por aí. Com o triunfo da revolução, tudo isso mudou”, diz.
Assista ao documentário “Cuba | paredão & depois” na íntegra:
Com a impossibilidade de fazer comércio direto com os EUA por conta do bloqueio, Cuba precisa importar produtos de outros continentes, o que é mais custoso para a ilha e priva os cubanos até de remédios. “Existem crianças aqui que, com problemas de saúde, tiveram que ir a outros países porque o bloqueio não permite que pessoas doentes tenham alguns medicamentos. Isso é criminoso”, diz Hugo Pimienta, ex-combatente do Exército Rebelde.
“Em Cuba, apesar desse terrível bloqueio, paradoxalmente há um grande desenvolvimento criativo, que talvez também tenha a ver com o bloqueio. De qualquer maneira, seria melhor que não tivesse existido”, comenta o artista plástico Alberto Lescay. Ele se diz “libertado” das melhores marcas de tinta, que não chegam à ilha, e pinta seus quadros até com terra.
Lemus, codiretor do documentário, diz que vê com bons olhos a nova etapa entre os dois países, que, para ele, poderá acabar com as “consequências letais” que o bloqueio causa à ilha. “É uma nova tentativa dos EUA de ingressar em Cuba. Antigamente tentaram pela força e não conseguiram”, opina, lembrando do interesse de empresas estrangeiras em entrar no mercado cubano. Apesar das recentes medidas do governo Obama, o bloqueio só pode ser revogado com a aprovação do Congresso norte-americano, que é dominado por uma maioria republicana contrária à medida.
“Defenda o que você tem, desfrute do que você poderá resolver agora com mais facilidade com essa relação, a nível material, mantendo seus princípios revolucionários. Ou você se entrega?”, indaga o artista plástico Lescay.