Golpe em 2002 na Venezuela revela o que pode acontecer no Brasil
É necessário conhecer o golpe em 2002 na Venezuela para entender o que pode acontecer com o Brasil. Naquele país, tomada de poder teve armação da Globo local com militares e oposição. Franco atiradores atiraram na cabeça de manifestantes (vídeo) e houve comoção internacional
“Quando empregamos tropas em eventos de pacificação ou de garantia da lei e da ordem, a determinação nos é dada por meio da Presidência da República. Se algum governador desejar a participação das tropas para qualquer coisa, tem que pedir à Presidência, esse é o fluxo. […] É essencial que as Forças Armadas, até pela credibilidade que têm, tenham papel completamente institucional e de Estado. Consideramos muito importante que a instituição fique pairando acima de qualquer viés ideológico” — General Otávio Rêgo Barros, do Centro de Comunicação Social do Exército, depois que porta-vozes da Globo tentaram trazer os militares para dentro da crise política
Divulgamos, abaixo (assista no fim do post), trecho do documentário A Revolução não Será Televisionada, de Kim Bartley e Donnacha O’Briain, que resume a História.
No início dos anos 2000, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, eleito em 1998, decidiu assumir o controle da petrolífera estatal PDVSA com seus próprios executivos.
Pesquisem a História do petróleo na Venezuela: foi, desde o início, uma atividade controlada por empresas dos Estados Unidos.
Tanto que a PDVSA montou uma rede de postos nos Estados Unidos, faz todo o seu refino lá e, pela proximidade, é muito competitiva no maior mercado consumidor do planeta.
A decisão de Chávez foi ao mesmo tempo um rompimento parcial com Washington e total com a oligarquia local. Parcial porque o presidente venezuelano sempre manteve relações cordiais com a Chevron, parceira da PDVSA em alguns projetos.
Chávez afirmava que a renda do petróleo deveria ser aplicada prioritariamente em programas sociais, especialmente de saúde, moradia e transporte.
Como reação à decisão dele, houve um locaute promovido por empresários.
Um dos líderes era o presidente da Fiesp venezuelana, Pedro Carmona.
Chávez foi socorrido pelo governo FHC, que consultou o recém eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva e despachou um petroleiro da Petrobras à Venezuela para abastecimento de emergência.
O golpe militar contra Chávez começou no dia 11 de abril de 2002. Os Estados Unidos deixaram claro que apoiavam a deposição de Chávez, de olho no pré-sal… ops, no petróleo da faixa do Orinoco.
Foi tudo milimetricamente organizado: começou com um protesto diante da PDVSA. Desconhecendo compromisso que havia firmado com a polícia local, a oposição decidiu marchar os manifestantes até o Palácio do governo. Tudo convocado e transmitido ao vivo pela Globo local — e suas associadas.
Franco-atiradores postados sobre um prédio atiraram na cabeça de manifestantes dos dois lados.
Além dos que marchavam ao Palácio do Planalto, havia também os que pretendiam defendê-lo: chavistas cercavam Miraflores.
Houve manipulação descarada de ângulos de câmera por parte das emissoras privadas para atribuir a chavistas as mortes causadas por franco-atiradores, o que causou comoção internacional.
Foi a senha para a intervenção militar.
Convocados pelos Mervais e Noblats locais, um grupo de militares apareceu nas emissoras golpistas, em rede, afirmando que já não reconheciam a autoridade do governo.
Em seguida, rebeldes atacaram — sem resistência — o Palácio Miraflores e levaram Chávez de helicóptero.
Carmona, o Skaf deles, assumiu o poder e, como primeira medida, fechou o Congresso.
As similitudes com a situação brasileira diante da manifestação prevista para o próximo domingo são apenas isso, similitudes.
A não ser pelo fato de que o PT é acusado de formar “milícias” quando são os diretórios, filiados e simpatizantes do partido que têm sido atacados em todo o Brasil.
De qualquer forma, não é possível desconhecer um modus operandi quase padrão que antecede golpes: desqualificação do governo na mídia e nas redes sociais, seguida de comoção causada por algum fato espetacular, seguida de intervenção jurídica/popular/militar para destituir governo eleito, seguida de oferta a poderes estrangeiros de acesso antes negado a recursos naturais.
É neste contexto que a comoção causada por mortes inesperadas tem um grande potencial de gerar ação!
Fica o alerta do leitor.
Vídeo: