Papa Francisco lava pés de refugiados
Sem dúvidas, Papa Francisco merece ser considerado como o diplomata humanitário do século que defende os princípios de proteção humana através da promoção da solidariedade e da paz.
Lucien de Campos*, Pragmatismo Político
A ausência de políticas europeias mais consistentes para resolver e/ou amenizar o problema migratório é cada vez mais gritante. Líderes diplomáticos e chefes de Estados discutem medidas de reforço a segurança das fronteiras, onde a construção de muros e cercas ainda aparecem como opções concretas, estimulando o agravante da xenofobia europeia incitada pelo ultraconservadorismo, determinando assim, um incontestável fracasso da diplomacia.
As decisões não estão centradas principalmente em medidas cosmopolitas que se transformam numa resposta multilateral sólida e conjunta. Se os Estados não se engajarem no exercício de princípios de hospitalidade, solidariedade, assistência para a garantia da dignidade, assim como soluções mais seguras que salvaguardam a vida dos refugiados, estaríamos a dar um passo atrás na busca da consolidação da paz.
Os atentados em Bruxelas no último dia 22 de março resgataram o discurso xenófobo dos europeus nas redes sociais. É simplesmente a ascensão da “legião de imbecis” definida por Umberto Eco como idiotas que perturbam a coletividade. Essa “legião de imbecis” não se enquadra em parâmetros nacionalistas como se dizem ser, pois torcem pela ocorrência de atentados, para assim, “vomitarem” seus discursos que prejudicam a coletividade e a inclusão dos migrantes.
Em meio à tudo isso, o Papa Francisco mostrou um gesto de misericórdia, solidariedade, irmandade e hospitalidade ao escolher pela primeira vez alguns refugiados para a celebração católica do Lava-pés, no último dia 24 de março em Roma. Vale recordar que antes de se tornar papa, a celebração só incluía católicos.
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Foi, sem dúvidas, um sinal de esperança e um recado para os líderes europeus. Em seu discurso, o Papa reiterou que todos os seres humanos são filhos do mesmo Deus, ao qual quer que vivamos em paz.
Dentre algumas reflexões que poderíamos retirar desse gesto, pode-se destacar uma simples: se há, de um lado, conflitos entre beligerantes que matam, de outro lado, há uma Europa que deixa morrer?
Sem dúvidas, Papa Francisco merece ser considerado como o diplomata humanitário do século que defende os princípios de proteção humana através da promoção da solidariedade e da paz.
*Lucien de Campos é mestrando em Diplomacia e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa, Pós-Graduando em Crise e Ação Humanitária pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político