“Vão catar coquinho”, diz, irritado, um dos promotores que pediu a prisão preventiva do ex-presidente Lula ao ser questionado sobre confusão entre Engels e Hegel. “É claro que nós sabemos a diferença entre eles”, bradou
“É claro que nós sabemos a diferença entre Engels e Hegel. Numa peça de 200 laudas, falando de crimes essenciais, vão preferir ficar discutindo a filosofia?”
Quem pergunta é o promotor José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo, um dos responsáveis pelo pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula, nesta quinta-feira. Ele se refere à confusão, feita no pedido encaminhado ao tribunal, entre Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista junto a Karl Marx, e Friedrich Hegel, filósofo morto em 1831, 17 anos antes da publicação do Manifesto.
“Vão caçar o que fazer. Vão catar coquinho”, continua o promotor estadual, irritado, sobre a repercussão em torno do erro presente na peça. “Isso é uma tolice, é um erro material que já foi verificado e será retificado. Tudo continua como está, não há qualquer gravidade nisso.” As informações são da BBC Brasil.
Diferente do que alega o promotor, a polêmica do pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula foi além da citação filosófica e dos comentaristas de redes sociais.
Juristas e advogados como Carlos Sampaio, coordenador jurídico do PSDB, e Gilson Dipp, ex-ministro do STJ, criticaram a fundamentação técnica da peça jurídica, afirmando que “não é usual fazer a denúncia e pedir a prisão do investigado” e que as chances de Lula fugir do país são pequenas.
Até o especialista em direito penal Aury Lopes Junior, citado pelos promotores como referência para embasar o pedido de prisão de Lula, contestou a ação contra o ex-presidente.
“Vejo como algo muito mais de caráter simbólico do que com embasamento processual. A prisão preventiva é uma exceção, não pode ser banalizada. E não acredito que haja necessidade, nesse momento, de que o ex-presidente seja detido. Isso não quer dizer que ele não possa ser, em algum momento, condenado num eventual processo”, disse o professor da PUC-RS.
Lopes Júnior não vê nenhuma das possibilidades previstas na lei para sustentar a prisão preventiva no caso de Lula. “O risco de fuga não existe, é uma figura pública, que é constantemente monitorada. A possibilidade de destruição de provas num crime como o de lavagem de dinheiro, cuja base é de comprovação documental, também não me parece razoável. Além do mais, já houve busca e apreensão na semana passada. Quanto ao risco para a ordem pública, é uma futurologia sem sentido. Ele não pode ser responsabilizado por tumultos que podem, em tese, acontecer. Para isso, existe a Segurança Pública”, afirmou.
informações de BBC Brasil