A indefinição da corrida presidencial nos EUA
Cenário para definição de candidatos democrata e republicano se torna imprevisível. Favoritismo de Donald Trump e Hillary Clinton é colocado em xeque após primárias de Wisconsin. Confira quantos delegados cada pré-candidato já alcançou e o número necessário para sagrar-se candidato
Eduardo Maretti, RBA
Analistas em todo o mundo consideram cada vez mais imprevisível a corrida nos partidos Democrata e Republicano para as eleições de novembro nos Estados Unidos. Nas prévias realizadas ontem (5) no estado de Wisconsin, as vitórias de Ted Cruz sobre Donald Trump (48% contra 35%) e de Bernie Sanders sobre Hillary Clinton (56% a 43%) deram fôlego às candidaturas de Cruz e Sanders.
“O cenário está muito difícil. As tendências que vemos agora, nas próximas primárias podem ser revertidas. Acho que vai ficar nesse cenário de indefinição até o fim”, avalia o professor Thomas Heye, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
No momento, o magnata Trump tem 742 delegados, contra 499 de Ted Cruz e 143 de John Kasich. Para vencer a indicação entre os republicanos, o pré-candidato precisa conseguir 1.237 delegados. Na seara democrata, Hillary já chegou a 1.279 delegados, e seu surpreendente oponente atingiu 1.027. O candidato necessita de pelo menos 2.382 votos no partido.
Aparentemente, a tarefa de manter a liderança parece ser mais difícil para Trump no Partido Republicano do que para Hillary no Democrata. Isso porque, embora tardiamente, os republicanos podem estar acordando para o desastre que poderia significar para seu partido a indicação de alguém como o empresário de Nova York.
Ted Cruz, senador pelo conservador estado do Texas, segundo o El País, teria recebido apoio econômico dos republicanos para ganhar em Wisconsin, o que mostraria uma reação do establishment do partido contra o aventureiro que prometeu construir um muro para separar os Estados Unidos do México, se eleito, entre outras bizarrices. Assim, a vitória de Cruz em Wisconsin pode representar o início de uma virada, embora a situação do adversário de Trump seja difícil. Mas, ao afirmar “esta noite (ontem) marca uma virada”, ele está focado nas importantes primárias de Nova York, dia 19.
As primárias de Nova York são fundamentais para a disputa nos dois partidos, inclusive pelo simbolismo da capital cultural americana. Segundo avaliação do New York Times, Ted Cruz e Bernie Sanders olham para a cidade para “ampliar o impulso” de suas vitórias em Wisconsin. Já Trump e Hillary precisam recuperar “o pé”, após “derrotas pungentes”. “Acho que Nova York pode apresentar novas tendências, mas essas previsões são muito voláteis no atual cenário“, diz o professor da UFF.
De acordo com o jornal novaiorquino, apesar de Trump estar “em uma posição forte”, a conquista dos delegados suficientes para garantir a indicação republicana não está assegurada. Analistas nos Estados Unidos preveem que, diante da ascensão de Cruz, a disputa pode ser decidida apenas pelos manda-chuvas do partido na convenção em julho.
Já entre os democratas, a maioria dos analistas acredita que, mesmo com a série de surpreendentes e sucessivas vitórias de Sanders nas primárias (seis nas últimas sete disputas com Hillary), a tarefa de tirar a dianteira de 252 delegados a favor da ex-secretária de Estado de Barack Obama é praticamente impossível. Inclusive pelo domínio exercido pelos Clinton no partido. Na hora da dúvida, os democratas devem apostar em Hillary, que teria mais condições de bater um oponente republicano.
Apesar disso, para Thomas Heye, a ameaça de Sanders ultrapassar Hillary coloca em xeque o “estofo” da pré-candidata para as eleições de novembro. Mesmo assim, o professor não acredita que Sanders vença a poderosa adversária. “Não acho possível”, diz.
Para ele, as previsões entusiastas de setores da esquerda americana e do mundo que preveem uma virada de Sanders não é muito real ainda. “É muito otimismo, porque, inclusive, a rejeição a Sanders é grande, considerando o grosso do eleitorado. Vejo Sanders conseguindo capitalizar fortemente em alguns setores da sociedade, entre estudantes universitários, profissionais libertais, academia, artistas. Mas de maneira geral Hillary vai bem com as minorias, por exemplo”, avalia. “Mas está difícil de prever. E olha que a coisa, por lá, está mais simples do que aqui no Brasil”, ressalva o professor.