Nobel da Paz causa polêmica ao defender Dilma no Senado. Em discurso breve, Alfedro Esquivel criticou o impeachment contra a presidente e irritou a oposição. A primeira reação partiu de Cássio Cunha Lima (PB), ex-governador cassado e líder do PSDB na Casa
Depois do encontro com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980, foi ao Senado Federal criticar o que chamou de “possível golpe de estado” no Brasil. O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidia a sessão, foi quem concedeu a palavra para Esquivel.
Em pouco mais de dois minutos de discurso sentado à mesa da presidência do Senado, Esquivel disse que veio ao Brasil trazer a “solidariedade da América Latina” e para pedir “que se respeite a constituição e a vontade do povo”. Ele ainda solicitou que o processo de impeachment de Dilma seja julgado “acima dos interesses partidários”, já que “é de interesse do povo brasileiro e de toda a América Latina”.
A oposição contestou o discurso de Esquivel e afirmou que ele não poderia ter falado em Plenário em uma sessão deliberativa do Senado. “Não se pode falar na tribuna alguém sem voto do povo brasileiro”, disse o senador Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB na Casa.
Cristovam Buarque (PPS-DF), amigo de Esquivel e que tinha um almoço marcado com o Nobel da Paz após o evento com Dilma, defendeu o argentino e alegou que ele não tinha conhecimento do que estava fazendo.
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O senador Paulo Paim, no entanto, justificou que havia autorizado o Nobel da Paz a falar desde que não entrasse em detalhes sobre o processo de impeachment em tramitação no Senado.
Desgaste
O discurso no Senado de Adolfo Pérez Esquivel deve repercutir internacionalmente e desgastar ainda mais o vice-presidente, Michel Temer, que atua para derrubar a presidente Dilma Rousseff do cargo. Essa é a opinião do cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP), Antonio Carlos Mazzeo.
“A fala do Esquivel (nesta quinta, 28) é um duro golpe nos que trabalham pelo impeachment. Expressa uma tendência internacional que não aceita a forma como está se dando esse processo. Temer não terá legitimidade nem dentro nem fora do país”, enfatiza.
“Aqui vai enfrentar a resistência de todos os grupos que defendem a democracia: MST, MTST, LGBTs, etc. E no exterior ele (Temer) também não encontrará a legitimidade para um eventual governo. O fato de ser um Prêmio Nobel da Paz a denunciar isso tem um impacto enorme. O desgaste é enorme para aqueles que estão capitaneando o impeachment.”
Por isso, o discurso de Esquivel irritou tanto o senador e latifundiário Ronaldo Caiado (DEM-GO), que exigiu a retirada da palavra golpe das notas taquigráficas dos anais do Senado. “É inaceitável manipular a fala de uma personalidade como Esquivel. Isso é gravíssimo. Um senador não pode suprimir o discurso de um Prêmio Nobel”, critica.
O senador Paulo Paim (PT-RS) acabou cedendo à pressão do ruralista. Para Mazzeo, Paim errou ao acatar a supressão da palavra golpe dos anais da Casa.
com Congresso em Foco e Caros Amigos
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