Como o conservadorismo percebeu que propor tirar Dilma para colocar Temer levaria ao fracasso do impeachment de Dilma, por Temer ser alternativa inviável para a opinião pública, resolveu propor tirar Dilma e Temer e realizar novas eleições; isso parece uma armadilha para o progressismo, pois após eventualmente tirar Dilma, o parlamento realmente tiraria Temer? Acho que não.
Nicolas Chernavsky*
Em quase qualquer conversa com alguém que é a favor do impeachment de Dilma, se comento que no lugar de Dilma entraria Temer, a pessoa a favor do impeachment chega a uma espécie de beco sem saída: de fato, não é agradável a muitos apoiadores do impeachment de Dilma a ideia do presidente ser Temer. Claro que imediatamente a pessoa não desiste do apoio ao impeachment, inventando algum argumento para seguir apoiando-o, mas nota-se que quando se percebe quem entra no lugar de Dilma, a convicção a favor do impeachment se reduz sensivelmente. A ponto de inviabilizar a substituição de Dilma por Temer na opinião pública brasileira.
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O conservadorismo brasileiro percebeu isso. Percebeu que sua tentativa desesperada de tirar o progressismo da presidência sem eleições gerais (ou seja, sem ter que derrotar eleitoralmente Lula) estava fracassando, e decidiu agir. E a ação parece consistir em ventilar a ideia de que após o eventual impeachment de Dilma, poderia haver o tal “impeachment de Temer”. O mais bizarro desta tática conservadora é que a ideia seria uma “armadilha”, ou seja, não haveria esse posterior impeachment de Temer. A ideia seria só para que naquela conversa com alguém que apoia o impeachment, quando se comentasse que no lugar de Dilma entraria Temer, a pessoa possa dizer, triunfante: “Bom, aí depois a gente tira o Temer também”. Só que o parlamento não necessariamente fará isso. Aliás, muito provavelmente não fará, deixando Temer lá até 2018.
Essa proposta de tirar Dilma com a promessa de tentar tirar Temer depois e fazer novas eleições pode ser até usada para convencer alguns setores políticos que ficam envergonhados de explicitamente colocar Temer no governo a votarem a favor do impeachment de Dilma. Claro que se depois Temer não sofrer o impeachment, esses setores que apoiaram o impeachment de Dilma vão poder dizer: “nós queríamos tirar o Temer também, mas o parlamento não quis, etc.”. E assim, dando um olé na opinião pública, o conservadorismo conseguiria arrancar o impeachment de Dilma com os votos de apoiadores de um teórico futuro impeachment de Temer.
Se por ventura alguém achar realisticamente possível que o parlamento tire Temer depois de eventualmente tirar Dilma, pode pensar da seguinte forma: após conseguir, depois de quase 14 anos, tirar o progressismo da presidência e colocar um presidente conservador, com uma coalizão conservadora, com poder garantido por mais de dois anos e meio, você acha que o conservadorismo vai simplesmente arriscar isso em novas eleições? Não.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político
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