Missão cumprida? No auge da escalada de Eduardo Cunha e Michel Temer, o juiz Sergio Moro anuncia a data prevista para encerrar a Lava Jato
Kiko Nogueira, DCM
Espera um pouco.
Sergio Moro, o Joaquim Barbosa da vez, referência moral, ética, espiritual e política para os cidadãos de bem, homem que até ontem prometia uma faxina no País — está jogando a toalha?
Agora?
Segundo o Estadão, Moro gostaria que a Lava Jato fechasse a tampa no final do ano. A sucessão de operações iniciadas em 2014 poderia, veja só, “provocar desgaste até mesmo na opinião pública”.
“Terminar até dezembro a parte da primeira instância é uma expectativa ou um desejo”, confidenciou ele.
Segundo o jornal, apesar da solidariedade nas redes sociais e eventos, ele teria ficado “consternado” com “manifestações de raiva e intolerância” das últimas semanas.
Estas se deram depois da condução coercitiva de Lula. A culpa é sempre de Lula, note. Pelo ódio de classes, pelo H1N1, pelo Botafogo, pela onda de calor no outono, pela extinção dos pandas e pela destruição do Templo de Salomão.
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Diz o jornalista Fausto Macedo, depositário de vazamentos ao longo dos últimos anos: “Ele acredita que chegou a hora de outras instituições, e também a sociedade, se empenharem para alcançar mudanças importantes que possam levar a um combate mais eficaz à corrupção e à redução do quadro de impunidade.”
No momento em que uma dupla de meliantes pode tomar de assalto o país, inclusive com a promessa de acabar com apurações de seus crimes pelo time de Moro — ele resolve se fazer de cansado?
Michel Temer vaza um áudio com um pronunciamento de 15 minutos sobre seu plano de governo em que a palavra corrupção não é mencionada. E Moro não tem nada a dizer a não ser que vai parar?
Missão cumprida? O plano, então, era punir apenas o PT? O objetivo era ajudar a tirar a petralhada do poder e agora deu?
Você precisa de muita ingenuidade para acreditar que o timing é pura coincidência e que o valente magistrado está com medo de represálias. Se está, é igualmente patético.
Eu me lembrei de um faroeste espaguete dos anos 70 com fenomenal Lee Van Cleef no papel de pistoleiro de aluguel. Ele fala o seguinte, a certa altura: “No budismo, a gente aprende que não existem coincidências, é tudo causa e efeito. Se foi a palavra certa na hora exata, não foi por acaso”.
Pena dos coxinhas que ocuparam avenidas pedindo a prisão dos corruptos, a limpeza da política, a extinção dos ladrões, a punição para a roubalheira etc etc. Pena dos imbecis que seguraram estandartes com a foto de Sergio Moro, guerreiro do povo brasileiro.
Pensando bem, pena nenhuma. Nasce um otário a cada minuto.
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