Categories: Corrupção

Sim! Sim! Sim!

Share

Raquel Muniz, deputada que votou ‘sim pelo impeachment e por um Brasil que tem jeito’.

André Falcão*

Esses últimos tempos têm sido ricos em me produzir náuseas e nojo invencíveis. Não há ânsia de vômito que saia derrotada. Como vitoriosa foi a facção dos corruptos, que assim deve ser considerada porque majoritariamente prenhe desses seres que infestam o país.

Foi um espetáculo de horror. Refiro-me, claro, à sessão de votação da admissibilidade do impeachment, ocorrida na Câmara dos Deputados, cujo pedido fora antes aceito, em ato de desavergonhada vingança contra o PT, pelo impune (e louvado pelos sepulcros caiados) corrupto-mor do país na atualidade. Seria de comédia, não se tratasse, ali, de algo extremamente grave para uma república federativa que se diz democrática e sob o império de sua constituição. O circo de horrores foi de tal monta que me vi agradecendo a Deus, mais de uma vez, por me conferir a capacidade de discernir entre o certo e o errado, de ver onde está a corrupção e os que a enfrentam, onde o discurso é hipócrita, cínico e covarde, e onde o é justo, equilibrado e corajoso. Vi-me agradecendo a Deus por me recusar a comportar-me como gado, que segue a boiada, ou como folha ao vento, ou mesmo como m… n’água corredeira.

O que se viu, ressalvados os poucos dos 367 que eram “apenas” homicidas da democracia e do estado democrático de direito, foi um desfile prenhe de hipócritas, estelionatários, corruptos, sonegadores, torturador, fundamentalistas religiosos, fascistas, racistas, homofóbicos, misóginos e assassinos. Eleitos. Donde representam seus iguais. À flor da pele, entretanto, hipócritas que eram, via-se maridos, pais, avós e filhos exemplares e apaixonados. As famílias de boa parte dos cínicos foram tão invocadas como justificativa dos votos pusilânimes, que fiquei desconfiado de que Dilma lhes fizera algum mal.

Leia aqui todos os textos de André Falcão

Aí no dia seguinte, logo pela manhã daquela noite insone, deparei-me com um fato que, apesar de singular, provavelmente é pista segura de que a presidenta fez-lhes mal, mesmo. A deputada Raquel Muniz, aquela que elogiou a gestão do seu marido também querido, o prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, e terminou a sua declaração de voto CONTRA A CORRUPÇÃO e com exaltados SIM! SIM! SIM!, acordou de seu berço esplêndido com a Polícia Federal cumprindo mandado de prisão exatamente contra seu cônjuge varão. É preciso, mesmo, tirar essa Dilma. Os bandidos precisam de sossego.

Leia também:
Deputada que votou ‘sim’ pelo impeachment amanhece com a PF na sua casa
Mais de 1 milhão de pessoas foram prejudicadas pelo ‘prefeito exemplar’
É mesmo a “corrupção” que deixa a elite brasileira furiosa?
Juca Kfouri: o panelaço, a corrupção, o ódio e a hipocrisia

Enquanto isto, os arautos da moralidade e da ética comemoravam com suas panelas e camisas verde-amarelas da CBF o resultado propiciado por seus 367 heróis.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook.