O tiro que atingiu a sem-teto Edilma Aparecida Vieira dos Santos é o sinal de alerta para um país à beira do conflito. Homem se aproximou em um carro preto e disparou contra os manifestantes
Marcos Sacramento, DCM
O atentado contra a militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Edilma Aparecida Vieira dos Santos é o prelúdio de uma tragédia que se desenha há tempos.
No início da polarização política, antes mesmo das eleições presidenciais de 2014, as ofensas promovidas pela direita se restringiam ao ambiente virtual, com muitas delas disfarçadas de piadas de mal gosto.
Sequer falava-se em fascismo. O clima aumentou e impropérios antes exclusivos das timelines do Facebook ou de grupos do Whatsapp passaram a ser proferidos por revoltados que não se acanhavam diante das câmeras.
Surgiram figuras como uma certa Deborah Albuquerque Chlaem, que após a confirmação da reeleição da presidente Dilma gravou um vídeo histérico no qual chama os eleitores da petista de “merdas”, “miseráveis”, “imbecis” e “burros”.
Em seguida teve policial federal usando a imagem da presidente em um alvo para prática de tiro e bonecos de Dilma e Lula enforcados em uma manifestação a favor do impeachment.
Depois vieram as hostilidades de figuras públicas nas ruas, restaurantes e até em hospitais. As tensões e o ódio contra a “ameaça bolivariana” pioraram a ponto de tornar perigoso o simples uso de uma peça de roupa vermelha.
Nos capítulos seguintes surgiram relatos de agressões físicas, como a sofrida por um casal por se recusar a gritar “Fora Lula” no meio de uma manifestação golpista. Ou o episódio dos fascistas armados de pedaços de madeira atacando manifestantes contra o impeachment, em um protesto na Avenida Paulista.
Então, dias depois acontece o esperado: um desses boçais que apoiam o golpe atira contra a militante sem teto.
O encadeamento dos fatos confirma a opinião do cientista político Roberto Amaral. Em entrevista ao portal Carta Maior realizada em meados do ano passado, ele disse que “o fascismo não começa pela sua exasperação, ele começa lento, com ofensas verbais, e depois evolui para agressões físicas e coletivas”.
As palavras dele se encaixam com precisão no momento atual da política brasileira. Resta aguardar o que virá de agora em diante.
Considerando que toda ação provoca uma reação, nem a Pollyana do livro infantojuvenil conseguiria ser otimista frente a esta perspectiva de dias sombrios.
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