Kennedy Alencar faz balanço dos 13 anos de PT no poder
"O PT mudou a agenda pública do país. Os pobres foram, de fato, incluídos no orçamento". Fazendo um balanço sobre o que considera o fim do ciclo do PT no poder, o jornalista Kennedy Alencar afirma que, apesar da crise política e econômica e do processo de impeachment de Dilma, os 13 anos do partido na presidência são mais positivos do que negativos
Apesar do final melancólico, com um governo que entrega a economia em péssima situação, que perdeu o controle do Congresso e que enfrenta um grave escândalo de corrupção, o balanço dos 13 anos do PT na Presidência da República é mais positivo do que negativo.
Na medida em que o tempo for passando, será possível olhar para todo filme do que foi o PT no poder e não apenas a fotografia dessa guerrra do impeachment. O PT mudou a agenda pública do país. Os pobres foram, de fato, incluídos no orçamento.
Houve o surgimento de uma nova classe média, que criou um mercado consumidor que dinamizou a economia e ajudou a diminuir a pobreza. O país tem um colchão social que inexistia antes da chegada de Lula ao poder e que hoje ameniza os efeitos da crise.
No período Lula, houve uma projeção internacional do país que resultou numa melhora da imagem do Brasil perante o mundo. A própria corrupção que contaminou o PT veio à tona com notável contribuição do partido. A modernização da Polícia Federal e uma relação de respeito ao Ministério Público Federal, acabando com a figura do engavetador-geral da República, foram fundamentais para levar à prisão figurões da política e do empresariado que sempre escaparam da Justiça.
Os oito anos de Lula serão vistos como um período com retrospecto positivo. Já os cinco anos de Dilma serão analisados como uma escolha equivocada de Lula, o maior erro político do petista.
Obviamente, não dá para colocar toda a responsabilidade na conta de Dilma, apesar de ela ter se mostrado incapaz de conduzir um projeto que herdou de Lula e que estava indo bem. Dilma recebeu de Lula um Brasil melhor do que ele encontrou. E ela vai entregar a Temer um Brasil pior do que recebeu.
A oposição saiu da eleição de 2010 bem desgastada. Quando Dilma chegou ao poder, os juros e a inflação estavam mais baixos do que hoje. Havia base de apoio no Congresso maior do que a de Lula. Uma parcela da sociedade que rejeitava Lula apoiou Dilma.
Mas ela aprofundou a intervenção na economia que havia começado na crise de 2008 e 2009. Exagerou na dosagem. Foi desorganizando a economia e a política.
Dilma não está caindo por causa das pedaladas fiscais, apesar de elas serem graves e estarem na origem da destruição da política fiscal. Está sendo apeada pelo conjunto da obra de um governo ruim. Ela não soube corrigir a rota na economia e se relacionar com o Congresso. Por exemplo: brigou com o PMDB na hora errada. No início de 2015, deveria ter feito aliança com Eduardo Cunha, que ganharia a eleição para presidência da Câmara. Depois, tentou um acordo com Cunha quando ele já dava sinais de que detonaria o impeachment.
Dilma não compôs na hora certa e rompeu tarde demais, no momento errado. Ela está caindo porque não soube dar respostas às crises política e econômica. Está colhendo os frutos do que plantou.
A oposição a boicotou, o Congresso foi irresponsável em 2015 e a crise internacional a atrapalhou, mas foram os erros e as escolhas de Dilma que a levaram ao dia de hoje.
O PT se confundiu com a corrupção. Cedeu ao esquema de financiamento partidário-eleitoral que sempre funcionou no país e que havia prometido combater. Boicotou Joaquim Levy quando era necessário aplicar um remédio amargo na economia.
Lula e o PT não impediram a candidatura de Dilma à reeleição em 2014, apesar das fortes críticas que já tinham a ela naquele momento e da avaliação de que o segundo mandato não daria certo. Lula não se arrepende de ter escolhido Dilma em 2010, mas se arrepende de não ter agido em 2014 para ser candidato a presidente.
Dilma, Lula e o PT precisam fazer uma autocrítica para entender como perderam o poder de forma tão melancólica, causando um enorme dano à esquerda no país. A responsabilidade é deles.
Oposição busca, pelo menos, 54 senadores
Todos os levantamentos mostram que o afastamento da presidente Dilma já está decidido pela maioria dos senadores. A oposição quer obter mais do que 54 votos para sinalizar que o desfecho será mesmo a aprovação do impeachment.
Isso é importante para fortalecer a estratégia de começo do futuro governo Temer e enfraquecer a reação de Dilma, que pretende enfrentar o julgamento até o final.
A oposição avalia que ficará na faixa dos 55 a 60 votos. Um mapa ontem à noite apontava um resultado entre 56 e 58 votos. O governo Dilma esperava obter entre 20 e 25 votos, com tendência para um número mais próximo de 20 do que 25.
Se isso se confirmar, restará mesmo ao governo apostar na judicialização e, em algum momento, pedir que o STF (Supremo Tribunal Federal) se manifeste sobre o mérito do impeachment, apesar de ser baixa a chance de sucesso. A maioria dos ministros do STF tende a deixar a cargo dos senadores a decisão de mérito.
Kennedy Alencar, Blog do Kennedy