Cortes no Bolsa Família podem colocar o Brasil de volta no Mapa da Fome e tirar crianças da escola. Governo Temer afirmou que promoverá um “pente-fino” no programa social, com cortes que podem chegar a 30%
A presidente afastada Dilma Rousseff respondeu perguntas de internautas pelo Facebook, prioritariamente sobre o Bolsa Família, para o qual traçou expectativas. “Quase todos os países desenvolvidos possuem programas similares, que se tornam mais importantes ainda durante crises econômicas”, disse.
Afastada da presidência na última quinta-feira (12), pelo Senado Federal, Dilma estava acompanhada da ex-ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A pasta foi modificada para Desenvolvimento Social e Agrário, e a ministra, substituída por Osmar Terra (PMDB-RS).
Uma das primeiras questões respondidas foi sobre novas políticas em relação ao benefício. Em entrevista recente, o ministro nomeado pelo presidente interino, Michel Temer (PMDB), disse que promoverá um “pente-fino” no Bolsa Família.
“Me responda o que seria esta reavaliação no Bolsa Família que o ministro falou. Isso poderá cortar benefícios”, questionou uma internauta. Dilma disse: “É verdade. Eles têm falado muito em cortar benefícios. Com o Bolsa Família, falam de cortar de 10% a 30%. Isso significa 4,7 milhões até 13 milhões de pessoas. Veja, eles falaram até em deixar só 5% das pessoas no programa (…) Se o programa for focado apenas neste número, vamos ter a seguinte situação catastrófica: a cada 30 minutos, 22 crianças deixariam de frequentar a escola”.
A presidente lembrou que o programa exige do beneficiado que seus filhos estejam matriculados no ensino regular. “Hoje, nós temos 17 milhões de crianças e jovens frequentando regularmente a escola graças ao Bolsa Família. Por isso, ficamos preocupados com os cortes”, afirmou.
De acordo com Dilma, o programa além de estimular a educação, fortalece a geração de renda através do trabalho. “Mais de 70% dos adultos trabalham, o mesmo percentual dos adultos que não recebem o programa. Assim, é um preconceito muito difundido por aqueles que querem acabar com o programa achar que quem recebe o benefício não trabalha. O Bolsa Família, para muitos, é um complemento de sua pequena renda, para outros, é a única renda que têm e a diferença entre ter alimento ou não”, afirmou.
Dilma também falou sobre a fome no país. De acordo com as Nações Unidas, nos últimos 12 anos de governo do PT, o país reduziu em 82% o número de famintos, saindo do Mapa da Fome da organização. Ao ser questionada se existe risco de o país retornar para o cenário anterior, disse: “É claro que se houver corte no programa há o risco de voltarmos ao passado. É com orgulho que podemos dizer que nasceu no Brasil a primeira geração de crianças livres da fome e na escola. Não podemos permitir retrocessos”.
Dilma afirmou ser preconceito achar que pessoas se acomodam. “Para ter uma ideia, quase 1 milhão de adultos do Bolsa Família fizeram cursos de qualificação profissional com o Pronatec. Quase 70% são mulheres. Isso mostra que as pessoas sempre querem melhorar de vida.”
Também foi abordada a questão do recadastramento obrigatório para as famílias do programa. “Um dos mecanismos de controle é que os beneficiados, a cada dois anos, têm que atualizar o seu cadastro. Neste ano, 606 mil famílias declararam que tinham melhorado de renda. Isso mostra que a população não considera o Bolsa Família um ‘projeto de vida’ e quer continuar avançando”, disse.
Por fim, a presidente fez um balanço do legado do Bolsa Família. “Você consegue imaginar como será o Brasil com adultos que, quando crianças, se alimentaram adequadamente, frequentaram a escola, tiveram acompanhamento de saúde, foram vacinadas? Serão certamente adultos que conseguiram completar sua educação acessarem a universidade. Haverá uma quebra do ciclo de pobreza e eles certamente não vão repetir a história dos seus pais. Será um país melhor”, afirmou.
Descontraída, a Dilma agradeceu as mensagens em defesa de seu mandato, da democracia e contra o golpe, e chegou a postar a música Apesar de Você, de Chico Buarque. “Seguimos na luta”, concluiu.
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