André Falcão*
Pretendes preencher, das velhas e repugnantes tintas da capitulação, da covardia e da vergonha tua história recente em desfavor da democracia, que já se encontrava por desbotar-se pelo tempo, desde a vossa desonrosa participação no Golpe de 64?
O que buscas agora, oh, Supremo!? Os holofotes da mídia, justamente dessa imprensa corrupta e golpista, como se deu no espetacular julgamento da Ação Penal 470, assim por ti chamada para tentar dar uma conotação de imparcialidade ao escabroso “julgamento” que escreveste à semelhança das mais ordinárias obras de ficção?
Oh, Supremo! Estás ao lado — nem a favor, nem contra! —, como poder independente e harmônico com os demais, de uma presidenta contra a qual não há uma só mácula? Ou marchando politicamente contra ela, ao lado dessa oposição que desmoraliza o cinismo em sua mais sórdida essência? Estás, acaso, oh, Supremo, contra uma presidenta de quem não se pode, honestamente, atribuir a prática de qualquer crime de responsabilidade?
Diz-me, Supremo!
Confessa-te para mim e para os que te pagam teus vencimentos! Despe-te, ao menos desta vez singular, da toga que te impregna da vaidade dos fracos, do despotismo com que te alimentas e faz por confundir-te autoridade com tirania… Ou então a enverga com dignidade, honra a tua razão de ser e te elevas ao cume da justiça que esperam de ti os jurisdicionados, e as leis a cuja observância tu deves resignar-te…
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Por outro lado, tu sabes, Supremo — mesmo aquele que, entre os seus, sordidamente age sem o menor resquício de pudor, como membro fosse de agremiação político-partidária de oposição, consoante é cônscio qualquer um que não seja irremediado desonesto intelectual —, que o processo golpista em voga e em vias de concretizar-se, travestido de impeachment, foi aceito, presidido e conduzido por um patifório com mandato, eleito decerto por pulhas iguais, em represália ao partido de uma mulher honesta, digna, valente, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de pessoas, e que em tudo desse destoa e se diferencia. Tu praticamente assim o disseste ao recentemente afastar o malfeitor de suas funções e de seu mandato! Mas por que não o fizeste antes?, como a acumpliciar-se desonrosamente com seus desmandos — esta a impressão quase inabalável que fica entre nós… Por que, Supremo?
Envergonha-te, oh, Supremo! E escreve a tua história, desta vez, com as matizes de esperança e fé que forjaram a sua criação. As cores da Justiça! Ainda há tempo.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
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