Dono de fábrica que confeccionou 25 mil unidades da fantasia do "Japonês da Federal" lamenta prisão do agente. O empresário disse que acreditava que Newton Ishii 'fazia o bem' e considera que muitas outras pessoas estão surpresas. A mídia tradicional transformou o policial em herói e omitiu o seu passado sombrio
Newton Ishii, o policial federal responsável por conduzir presos da Operação Lava Jato, virou tema de marchinha e até de fantasias em 2016.
Sua máscara foi campeã de vendas da fábrica Condal, no Rio de Janeiro. No total, 25 mil unidades da fantasia do “Japonês da Federal” foram vendidas e utilizadas nas manifestações em defesa do impeachment e ‘contra a corrupção’ por todo o Brasil.
Diretor comercial da empresa e um dos donos da Condal, Albert Paris diz que nenhuma outra figura política foi tão visada em fevereiro e março.
Até ser preso nesta terça-feira (8). Ishii era, nas palavras do diretor da firma, a “imagem positiva em meio ao caos político”.
“Meus clientes devem estar pensando a mesma coisa que eu. As pessoas acreditavam que ele fazia o bem, mas surge um caso de corrupção. É triste. Acho que todos nós ficamos um pouco surpresos com esta notícia”, diz.
Como são compradas quase sempre para saudar os “homenageados”, diz Paris, as máscaras do “Japonês da Federal” não devem voltar a ser requisitadas.
“Era ele quem prendia as pessoas da Lava-Jato e era esta a motivação para as pessoas comprarem, para elogiar. Neste momento, as vendas não devem aumentar. Vamos ver como o mercado assimila esta notícia”, lamentou.
Noticiário amigo
Albert Paris está certo. Não só ele, mas muitos brasileiros ficaram surpresos com a prisão do Japonês da Federal e boa parte da culpa é do noticiário pouco responsável dos grandes veículos de comunicação do Brasil.
A mídia tradicional forjou na imagem de Newton Ishii a pecha de herói e omitiu o seu passado sombrio. O agente já era investigado desde 2003, citado num inquérito que apura contrabando com a ajuda de policiais federais.
Ele também já havia sido condenado na Operação Sucuri, em 2009, a quatro anos e seis meses de prisão em regime semi aberto por causa de crimes na fronteira do Panará com o Paraguai. Liberava a passagem de determinados veículos por quantias que variavam entre 30 mil e 40 mil dólares, segundo o portal Paraná-online.
Chegou a ser afastado da Polícia Federal, mas recorreu e voltou a atuar.
Quando visitou a Câmara dos Deputados no início deste ano, foi recebido como celebridade por alguns parlamentares. Aqui cabe um parêntese: os deputados, diferente de boa parte dos cidadãos comuns, não são vítimas do noticiário enviesado, mas cúmplices.
Em um episódio tragicômico, o policial federal chegou a participar de um churrasco em família na casa do deputado estadual Ney Leprevost (PSD-PR). Na época, Leprevost publicou nas redes sociais, orgulhosamente, uma fotografia [ver abaixo] de sua família ao lado de Newton Ishii com a seguinte legenda: “Olha quem está nos honrando com sua presença no churrasquinho: o agente Newton Ishii, mais conhecido como JAPONÊS DA FEDERAL. Através deste grande brasileiro, parabenizo a Polícia Federal, a Justiça Federal e a Procuradoria da República pelo combate à corrupção realizado através da Operação Lava Jato”.
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