Em meio à crise, na calada da noite e com o aval de Michel Temer, Câmara cria 14.419 novos cargos federais, quase quatro vezes o número de cargos comissionados que o presidente interino prometeu cortar este ano. Medida contraria discurso de enxugamento do poder público
Junto com os reajustes para 16 categorias de servidores públicos dos três poderes da República, aprovados ontem ontem (2) na Câmara dos Deputados, os parlamentares deram sinal verde para o governo interino de Michel Temer criar 14.419 novos cargos federais.
A iniciativa vai na contramão do discurso que antecedeu e preparou o terreno para o processo que afastou a presidente Dilma Rousseff.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, a criação dos novos cargos foi inserida no projeto de lei que concedeu aumento aos servidores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
Dos 14 mil cargos criados, a Folha especifica que 4.732 são de técnicos administrativos em educação. Outros 516 postos são para de analista (sem especificar a área) para o Comando do Exército. Se aprovada pelo Senado, os novos cargos deverão ser preenchidos por meio de concurso.
Sem considerar o custo para os cofres públicos dos novos cargos, o pacote de reajustes aprovado pela Câmara, visando a angariar apoio político ao governo interino trará impacto no Orçamento de ao menos R$ 58 bilhões até 2019.
Contradição
A criação de quase 14,5 mil postos corresponde a quase quatro vezes mais cargos federais que Michel Temer prometeu cortar assim que assumiu a presidência de forma interina.
Em maio, ele havia pedido ao então ministro do Planejamento, Romero Jucá, o corte de 4.000 cargos de comissões e outras formas de contratação sem concurso, como forma de diminuir os gastos públicos.
“Cortes corresponderão ao dobro do que governo anterior disse que faria e não cumpriu”, afirmou Jucá, na época, antes de deixar o cargo.
O projeto que prevê a criação das vagas ainda passará pelo Senado. O líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), disse que o Senado irá revisar a pauta bomba aprovada pelos parlamentares que criou mais de 14 mil cargos federais.