Repórter australiano do jornal The Sydney Herald usa sua própria experiência no Rio de Janeiro para explicar por que os Jogos Olímpicos serão especiais
O vírus Zika. O atraso na entrega de instalações olímpicas incompletas e da expansão do metrô. Uma superbactéria na Baía de Guanabara. Um laboratório antidoping fechado. O aumento da criminalidade. O processo de impeachment de Dilma Rousseff. O escândalo da Petrobras.
Mesmo diante de uma longa lista de problemas, Andrew Webster, repórter especial de esportes do jornal australiano The Sydney Herald, é categórico ao responder às perguntas que rondam a mente de quem acompanha o noticiário sobre o Brasil neste período pré-olímpico.
“Tudo isso seria motivo para não ir à Olimpíada? Um sinal de que será um fracasso?”, questiona, em um artigo publicado recentemente, para emendar em seguida: “Absolutamente não.”
O título do texto deixa clara sua mensagem a mensagem de Webster: “Chega de criticar o Brasil. Estes Jogos Olímpicos serão especiais”. E o repórter usa sua própria experiência na cidade para explicar por quê.
Ele conta que uma das coisas “mais idiotas” que já fez na vida foi ir a um baile em uma favela. Para sua surpresa, diz ter se sentido seguro, mesmo sendo o único estrangeiro ali – até começarem os tiros.
“Não estavam vindo da pista, mas de algum lugar não muito longe. Entrei em pânico e comecei a correr. Todo mundo continuou a dançar, como se nada tivesse acontecido”, afirma.
“Então, sim, ir a uma favela com estranhos e tiros sendo disparados por perto foi uma das coisas mais idiotas que já fiz – mas também uma das mais divertidas.”
Webster diz contar essa história quando se fala do “caos, do perigo e de beleza hedonista” do Rio, que ele considera uma das cidades “mais misteriosas, fascinantes, frustrantes, letais e visualmente espetaculares” do mundo.
O povo
O jornalista destaca que a disparidade entre ricos e pobres quase nunca esteve tão clara para quem mora no país, com bilhões de reais investidos em instalações esportivas enquanto áreas como saúde, educação, transporte e segurança deixam muito a desejar.
E que a raiva despertada por isso “transborda para as ruas na forma de crimes”, algo que tem preocupado a delegação australiana, que reforçou sua segurança e proibiu atletas de chegarem perto de favelas.
Por outro lado, diz Webster, as Olimpíadas no Rio serão uma oportunidade única de ver cerimônias olímpicas no Maracanã, assistir a jogos de vôlei de praia à meia noite em Copacabana e ver disputas de tiro com arco no sambódromo.
E completa dizendo que, apesar de todas as pedras atiradas na direção das Olimpíadas no Rio, o que as salvará será “aquilo que os estrangeiros parecem mais temer, o povo”.
“Você poderá ficar horas preso em um engarrafamento, levar metade do dia para fazer o check in em um voo ou imaginar que a conta que você pediu no restaurante não vai chegar nunca”, afirma Webster.
“Mas, quando você estiver em um quiosque em Ipanema, bebericando água de coco e comendo um misto quente enquanto admira o Oceano Atlântico e tenta se lembrar da noite anterior e todas as pessoas que você conheceu, nada disso importará.”
BBC
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