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O significado da vitória de Rodrigo Maia para Michel Temer e Eduardo Cunha

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O que a eleição na Câmara representa para o futuro de Temer e Cunha? Sem Eduardo Cunha, o centrão foi implodido e, embora seja o fiador do presidente interino, não é mais garantia de governabilidade

Rodrigo Maia (DEM-RJ), o novo presidente da Câmara dos Deputados (Imagem: (André Dusek/Agência Estado)

Cíntia Alves, GGN

A disputa pela presidência da Câmara, encerrada na noite de quarta (13) com a eleição de Rodrigo Maia (DEM), tem duas faces: a de Michel Temer (PMDB), com o sorriso discreto – digno de quem foi relativamente bem sucedido nas jogadas para impedir um adversário no comando da Casa, mas ainda com a governabilidade a ser colocada à prova – e a de Eduardo Cunha (PMDB), que a cada dia acumula novas derrotas.

Cunha, metido até o pescoço com a Lava Jato e em vias de ser cassado por seus colegas de Câmara, faz tempo “perdeu dentes e a embocadura”, como escreveu Andrei Meireles. A eleição de ontem foi prova de que o todo poderoso enquanto presidente da Câmara já não tinha muito a oferecer a seus antigos aliados em troca da vitória de Rogério Rosso (PSD), que acabou derrotado por Maia no segundo turno.

Em todas as análises que circulam pela imprensa, o destino de Cunha está traçado: será inevitavelmente cassado. É só questão de tempo. Mas é justamente de tempo que ele precisa para fazer as ações contra sua esposa, Cláudia Cruz, tramitarem junto com as suas no Supremo Tribunal Federal, tirando a mulher da mira de Sergio Moro.

Diante da derrota do candidato do centrão, o que Cunha pode fazer agora é tentar esvaziar a Câmara para impedir que o quórum necessário à sessão em que será votada sua cassação seja atingido.

Eleito, Rodrigo Maia já deu a senha: não vai marcar data para a cassação, mas pretende atingir quórum de cerca de 500 deputados para discutir o processo contra Cunha. Isso pode ser entendido como um sinal contrário ao desejo de Cunha, que prefere jogar num plenário reduzido. Mas o segundo semestre é marcado por Olimpíadas e eleições municipais, o que é sinônimo de Câmara menos cheia.

Com a derrota de Rosso e a perda de poder do ex-presidente da Câmara, talvez já seja possível assistir ao ocaso do centrão. O bloco, sob liderança de Cunha, impôs derrotas incontáveis à Dilma Rousseff (PT). Hoje é fiador, mas não é garantia de governabilidade ao governo Temer.

Diante da “implosão do centrão”, a colunista Maria Cristina Fernandes escreveu hoje, no Valor: “Nenhum outro presidente da Câmara será capaz de colar os nove pedaços em que o Centrão se desintegrou. Nenhum presidente da República será capaz de tramitar os interesses de seu mandato numa Câmara fatiada em 17 candidaturas, depois afuniladas para igualmente inéditas 14.”

A eleição da Câmara mostrou que a fragmentação da Casa desafiará o interino. Mas parte do Palácio do Planalto posta que o fim do centrão sob Cunha pode ser positivo, pois além de minar a influência do deputado-réu, pode fazer com que os nanicos corram para debaixo das asas do governo. Devem pensar: para onde mais iriam? É preciso aguardar novos capítulos.

A derrota de Castro só foi possível porque o núcleo duro do governo trabalhou muito nas últimas horas antes da eleição, oferecendo benesses para que os indecidos e dissidentes do PMDB não depositassem votos no candidato que se declarou de oposição, com ajuda do PT. De outro lado, PSDB, além de segurar Maia, incentivou a proliferação de candidatos nanicos.

Soma-se ao trabalho do governo Temer a incrível habilidade da esquerda de se dividir em momentos decisivos.

O PCdoB sambou para justificar a candidatura de Orlando Silva, lançada de última hora, quando o PSOL já havia destacado Erundina para a missão de “unificar a esquerda”.

Um aliado de Marcelo Castro, irado com sua derrota, disse ao jornalista Tales Farias que o PCdoB “fechou acordo com Rodrigo [Maia] para abafar a CPI contra a UNE”. Um petista também não identificado comentou que é “evidente” que a missão de Orlando Silva era “rachar a esquerda e fortalecer Rodrigo”.

Fato é que os números confirmam, em parte, as teorias. Somados apenas os votos dados a Erundina e Orlando Silva com os de Marcelo Castro, o peemedebista teria ido ao segundo turno contra Rodrigo Maia. Mas só isso não seria o bastante para tirar a vitória do candidato do DEM, que herdaria a maior parte dos 106 votos de Rogério Rosso.

No mandato-tampão até fevereiro de 2017, Rodrigo Maia terá de incorporar um equilibrista. Será cercado pelas forças de Eduardo Cunha, cuja única arma é adiar ao máximo sua cassação. Será cobrado pelo PT a ajudar a atual oposição a recuperar o protagonismo que perdeu na Câmara durante a era Cunha. E sofrerá forte pressão do governo interino, que precisa emplacar projetos de peso neste segundo semestre para viabilizar o ajuste fiscal e garantir a permanência de Temer até 2018.

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