Professora comete suicídio após perda de salário; docente deixou carta
Professora escreve carta e comete suicídio após perseguições e bloqueio de salário. Sindicato da categoria afirma que Jucélia Almeida foi vítima de um cenário infernal. Irmã da docente desabafa: "O estado assassinou a minha irmã!"
Uma professora de Aracaju (SE) cometeu suicídio na última sexta-feira (1) em um caso que chocou todo o estado de Sergipe.
Jucélia Almeida, 45 anos, lecionava na rede estadual e foi encontrada morta em seu apartamento no domingo (3). Antes de tirar a própria vida, ela deixou uma carta relatando os problemas que enfrentou durante um ano.
Em entrevista para a mídia local, a irmã de Jucélia afirma que ela morreu por causa do desdém e da negligência do Estado.
Após meses sem receber salário, a professora chegou a desenvolver diversos problemas de saúde.
“Desde o mês de março minha irmã estava de licença médica, com laudo da perícia; ela estava debilitada e foi cuidar da saúde. Sofria com frequência assédio moral por parte da diretora da escola em que trabalhava”, relata Gilzete, irmã de Jucélia, que classifica ainda a diretora da instituição de ensino como ‘desumana’.
“Quando a minha irmã tentou receber o salário do mês de março, o dinheiro estava bloqueado. Ela procurou ajuda em várias entidades, mas ninguém a ouviu. O Estado matou a minha irmã. Quando digo estado, falo das pessoas […] foram desumanos com ela; não cumpriram a lei e foram ilegais. A deixaram num calvário em busca do salário; ela já sofria de depressão e estava com baixa autoestima”, afirmou Gilzete.
Gilzete disse também que a irmã passou por necessidades. “Dei sustentação financeira e emocional a ela e a impedi de se suicidar outras vezes. É muito triste, ela deixou uma filha única, universitária, de 21 anos, que vai precisar de ajuda”, lamentou.
Memória
Nesta quarta-feira (6), professores e professoras fizeram um ato em solidariedade a família de Jucélia Almeida e em repúdio a política de perseguição e coerção implantadas pela Secretaria de Estado da Educação.
O calvário de Jucélia
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Sergipe (Sintese) divulgou uma carta aberta em que detalha toda a trajetória e o sofrimento de Jucélia até chegar ao ponto de tirar a vida. Leia abaixo.
A triste história da professora Jucélia tem início quando a retiram da coordenação de Escola Estadual José Rollemberg Leite. Como professora licenciada de história, Jucélia volta para a sala de aula, no Centro de Estudos Supletivos Professor Severino Uchôa, e logo de cara tem um direito negado. Mesmo estando em atividade efetiva de sala de aula, a professora Jucélia Almeida não recebe a gratificação por regência. Então sua peregrinação e calvário em busca de seus direitos começam.
Idas a Diretoria de Educação de Aracaju, e a Secretaria de Estado de Educação para tentar solucionar o problema tornaram-se rotineiras, mas nada era resolvido. O sentimento de impotência somado a queda de sua remuneração fizeram com que Jucélia Almeida desenvolvesse depressão e doenças cardiovasculares.
Com as doenças, a professora Jucélia Almeida precisava de tratamento, ia ao médico e levava o atestado para o seu local de trabalho, o Centro de Estudos Supletivos Professor Severino Uchôa. No entanto, a diretora da unidade de ensino, Jeane Carla Góes, ignorava os atestados médicos da professora e cortava seu dia de trabalho, mesmo Jucélia estando respaldada pelo atestado de um médico especialista.
A Perícia Médica do Estado se recusava a conceder licença à professora Jucélia Almeida, mesmo ela tendo laudos médicos que comprovavam o seu debilitado estado de saúde física e mental. A licença só foi conseguida após a professora Jucélia e sua irmã, Gilzete Almeida, procurarem o SINTESE para denunciar a situação. Após a intervenção do SINTESE a professora Jucélia conseguiu ficar de licença por 60 dias. E é neste momento que a parte mais absurda da história acontece.
Mesmo estando assegurada pela licença média, a professora Jucélia ficou sem receber salário durante os 60 dias que esteve afastada. Ou seja, dois meses sem que um real entrasse em sua conta. Por diversas vezes peregrinou entre a DEA e a Secretaria de Estado da Educação, mas tudo que recebeu foi o descaso e o destrato daqueles que deveriam assegurar seus direitos.
Com o fim da licença médica, em junho deste ano, a professora Jucélia retorna a sala de aula. Com o findar do mês ela esperava que seu salário fosse normalmente depositado em sua conta, mas não foi isso que ocorreu. Mas uma vez a professora não recebeu seu salário, acumulando assim três meses sem salário. Durante este período a professora foi sustentada com a ajuda da família.
Cansada e humilhada, a professora Júcélia Almeida, mais uma vez foi até a SEED e novamente escutou a mesma desculpa, de que por questões técnicas seu salário não havia saído. Três meses ouvindo a mesma ladainha. Júcelia não aguentou, gritou, esbravejou e disse em alto e bom som para que todos da SEED pudessem ouvir que ela iria se matar.
Em um ato desesperado, sem perspectivas, a professora Jucélia Almeida, cumpriu o que havia dito. Na sexta-feira, 1, ela tirou sua vida.