Enquanto Dilma encarava seus algozes no Senado Federal em uma sessão que durou quase 14 horas, o presidente interino Michel Temer negociava favores e barganhas no submundo da política para garantir sua permanência no poder
A sessão do julgamento do impeachment no Senado Federal desta segunda-feira (29) foi histórica. Dilma Rousseff discursou por cerca de 40 minutos e foi interrogada pelos senadores e pelos advogados da acusação durante 13 horas.
Enquanto a presidente olhava no olho e rebatia questionamentos de vários de seus principais algozes, o interino Michel Temer agia nos bastidores para assegurar mais votos de senadores. A votação final do impeachment está marcada para a próxima quarta-feira (31). Temer precisa de 54 votos para permanecer no poder.
De acordo com informações da jornalista Natuza Nery, da Folha de S.Paulo, Michel Temer prometeu ao senador Roberto Rocha (PSB-MA) uma diretoria no Banco do Nordeste.
“O senador Roberto Rocha (PSB-MA) será contemplado com uma diretoria do Banco do Nordeste em troca de voto favorável ao impeachment. A oferta veio após o congressista ser procurado por Lula. Assim que soube do encontro, Temer agiu para evitar que Rocha pulasse para o lado de Dilma Rousseff”, publicou Natuza.
Em seu discurso de ontem, o senador Jorge Viana (PT-AC) disse algumas verdades inconvenientes ao revelar que vários dos “juízes” do Senado se beneficiam da própria decisão.
É o caso, por exemplo, de José Aníbal (PSDB-SP), suplente de José Serra e amigo de Dilma há 50 anos, mas que votará a favor do impeachment porque só fica no Senado se Dilma for deposta, já que o titular, Serra, é ministro de Michel Temer.
O embate entre Dilma e Aníbal, aliás, foi um dos momentos mais marcantes da sessão histórica de ontem.
O senador tucano disse que não julgaria Dilma, o que lhe seria penoso, mas sim “suas pedaladas, seus crimes”, e declarou que o governo da presidente “já não existe mais”. Aníbal afirmou ainda que torceu por ela até 2012, quando ela “desorganizou o setor elétrico”.
Dilma disparou: “Espero que o senhor tenha em relação a esse processo uma posição de imparcialidade e que o senhor não me condene antes da hora. É uma falha profunda no devido processo legal, e eu nunca soube que isso era possível, um julgador, na hora em que uma testemunha está depondo, externe o seu julgamento”.
A presidente explicou suas decisões na crise do setor elétrico, em 2012, dizendo que a medida provisória que teria provocado a discordância de Aníbal estava relacionada à revisão de contratos com empresas do setor que foram revistos para que o lucro fosse passado à população. Em 2014, quando houve aumento da conta de luz, ela disse que houve escassez de recursos.
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