Em depoimento surpreendente, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) declara: com Lula, desfecho das 'pedaladas' seria diferente. José Múcio Monteiro culpou Dilma Rousseff pelo próprio destino. “Não sei nem se eu devia dizer... mas tudo começou com uma crise de temperamento”
José Múcio Monteiro, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), surpreendeu a todos ao desabafar no ar durante uma entrevista à Rádio Jornal. Múcio culpou a presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), pelo próprio destino.
Para o ministro, “tudo começou com uma crise de temperamento”, quando Dilma decidiu negar a existência das pedaladas fiscais originais – irregularidades julgadas em um processo específico, em abril de 2015, e que depois embasaram a rejeição das contas de 2014 da petista, em julgamento realizado em agosto de 2015. Fosse com o ex-presidente Lula (PT), diz Múcio, seria diferente.
“Quer dizer, foi vaidade, foi soberba, foi falta de humildade, excesso de autoridade. Qualquer político ali, Lula, por exemplo, diria: ‘Fiz para não interromper os programas sociais. E vou pagar.’ Pronto, estava resolvido. ‘Vou consertar’. Mas ela resolveu enfrentar a área técnica da controladoria do governo. E deu no que deu”, argumentou.
“Não sei nem se eu devia dizer […] Na verdade, antes da crise política, estamos passando por uma crise de temperamento de uma pessoa verdadeiramente não vocacionada para a vida pública. Voto, pedir voto, dar abraço, apertar a mão, fazer concessões, fazer acordos… Ela nunca fez. Os votos foram fruto de uma estrutura política montada pela presidente Lula, que a elegeu. Ela diz ‘eu tive’. Não teve”, disse.
“Eu lamento muito a gente ter chegado nisso, entendeu? Tudo começou com temperamento. Lá atrás, em 2015, quando nós fizemos o primeiro relatório, das pedaladas, eu escrevi no meu relatório que houve dolo, mas não houve desvio de dinheiro público. O Ministério Público havia dito que eles devolvessem R$ 47 bilhões à vista. E eu disse ‘não, faça um plano de pagamento’. Em vez dela dizer assim ‘houve, eu fiz isso para não deixar de pagar Bolsa Família, eu fiz isso para não interromper o Minha Casa, Minha Vida, para os pobres não deixarem de ter a assistência que estão tendo’, disse ‘não houve’. Aí ficou um ano brigando com o Tribunal, dizendo que não houve, para no fim do ano dizer que fizeram e ter de pagar à vista. E teve outra providência lá que o Tribunal não acatou”, comentou Múcio.
José Múcio
Hoje ministro do TCU, José Múcio já foi deputado federal pelo PFL e DEM. Candidatou-se ao governo de Pernambuco em 1986, mas perdeu a eleição para o ex-governador Miguel Arraes de Alencar, avô de Eduardo Campos.
Apadrinhado por José Sarney, Múcio foi Ministro das Relações Institucionais no primeiro governo Lula. Em 2009, foi indicado para compor o Tribunal de Contas da União. Seu nome foi aprovado pelo Senado Federal com 46 votos. Múcio renunciou ao mandato de deputado federal para assumir uma cadeira permanente no TCU.
as informações são da Rádio Jornal e do Jornal do Comércio