Repórter assediada por Mc Biel foi exposta e demitida. O assediador não apenas não foi punido como continuou fazendo shows e debochando da situação. Histórico de mensagens do cantor revela um arsenal de machismo, racismo, homofobia e um discurso que, de modo geral, atinge o mais alto nível de violência possível
Mc Biel reúne o que há de mais asqueroso na humanidade.
A essa altura é presumível que não falo apenas da música inaudível. Música inaudível não me diz respeito: se não gosto, não ouço. Mas machismo, racismo, homofobia, transfobia, gordofobia, elitismo e ignorância dizem respeito a todos nós – e nós precisamos, infelizmente, falar sobre esse garoto que, não fosse pelo comportamento nauseante, não mereceria sequer o nosso tempo.
Não bastasse o atentado aos nossos ouvidos a cada vez que canta, Gabriel foi o assediador de uma repórter do IG Giulia Pereira, que foi demitida após denunciá-lo (aliás, que papelão, IG!).
“Tá gostosinha, te quebro no meio”, disse ele à moça que tentava apenas fazer o seu trabalho que, por infortúnio, naquele momento consistia em entrevistá-lo.
A repórter foi demitida sob o pretexto de “seniorização da equipe” e o garoto branco metido a popstar continuou com seus shows de péssima qualidade.
Ele se desculpou – como todo assediador que só se arrepende quando é exposto – mas transformou a infeliz frase dita à repórter em um bordão, e cantou “tá gostosinha, de quebro no meio” em um dos shows.
Mesmo diante dessa realidade no mínimo desanimadora para quem luta por uma sociedade livre de assédio, o cantor teve a audácia de afirmar em entrevista ao TV FAMA: “Eu queria primeiro deixá-la ciente do quanto ela prejudicou minha carreira.”
Você não entendeu errado: A repórter sofreu assédio, foi exposta e demitida; o assediador não apenas não foi punido como continuou fazendo shows e debochando da situação, para, no fim das contas, ter a pachorra de sentir-se profissionalmente prejudicado.
Parece apenas o cúmulo da cara de pau, mas isso tem outro nome: machismo naturalizado. Para um garoto como ele, com uma formação pessoal estúpida e terrível, dizer a uma repórter que a quebraria no meio acaso mantivessem relações sexuais é naturalíssimo, uma brincadeira inocente justificável pelo “clima de descontração”, como ele mesmo justificou, à época.
Esse episódio é, aliás, apenas a ponta do iceberg. Os tweets antigos de Mc Biel revelam um histórico de machismo, racismo, homofobia, transfobia, gordofobia e um discurso que, de modo geral, atinge o mais alto nível de violência possível:
“Bom dia, negros fedidos”; “A vocalista do evanescence deveria ser estuprada por fãs psicóticos”; “Bixa (sic) tem todo o direito de ser bixa mas não precisa estravazar (sic)”; “Mulher que anda toda decotada não merece o meu respeito”; “Adele poderia ser gostosa”; e “Te estupro, hein, Angélica” são apenas alguns dos despropósitos.
Duas coisas, penso eu, devem ser extraídas disto: a primeira é que esse assediador ignóbil desfruta de algum prestígio entre os adolescentes brasileiros.
Surgiu, inclusive, um tweet em que uma de suas fã-girls defendia-o com unhas e dentes (com argumentos de doer os olhos).
Que tipo de adolescentes estamos educando? Ou, em melhor colocação: Que tipo de adultos nos envergonharão até a próxima geração? É preocupante que exista alguém como Mc Biel sobre a face da terra, mas mais preocupante é que ele mantenha seguidores – e defensores – que compartilham de suas opiniões, que são os mesmos – eu apostaria – que se autointitulam bolsominions nas redes sociais.
Pudera: Adolescentes que são “educados” pela globo, Capricho, Atrevida e tantas outras revistas teen que perpetuam discursos socialmente descomprometidos e irresponsáveis, bombardeados pela má-informação (a falta de informação é preferível) e por uma modernidade caótica que não propicia uma convivência familiar salutar.
Em segundo lugar, a anti-novidade: Mc Biel pedirá desculpas, como fez na primeira vez em que foi exposto. Ele não só pedirá desculpas como declarará que mudou, que aprendeu muito e todas aquelas asneiras para boi dormir que já conhecemos.
E haverá ainda espaço para ele na mídia e na música. Haverá programas – como o TV Fama, por exemplo – que o escutarão. Haverá ainda fãs para defendê-lo. E haverá, por fim e infelizmente, quem esqueça de seus despropósitos.
Não, eu não adivinho. Mas machistas/racistas são enfadonhamente previsíveis.
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